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12/Aug/2025

Cacau: Dengo investe em 2ª unidade de produção

Fundada com o propósito de unir impacto socioambiental e qualidade, a marca de chocolates Dengo ganhou escala e está prestes a mudar de patamar. A empresa está investindo R$ 100 milhões na segunda unidade de produção em Itapecerica da Serra (SP) e vai quintuplicar a capacidade de abrir lojas a partir de 2026. A ampliação não significa deixar para trás os seus princípios, que estão em sintonia com a agenda climática e ganharam os holofotes de consumidores, empresários e poder público especialmente neste ano em que o Brasil sedia a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30). Paradoxalmente, a Dengo foi criada com a ideia de que o mundo não precisa de mais marcas de chocolate, a menos que elas tragam um modelo de impacto positivo para produtores, planeta e consumidores. Ou se criava um negócio que tivesse um modelo de impacto socioambiental por trás, que fizesse bem para o produtor, para o planeta e para o consumidor, resultando num produto de muita qualidade, ou não faria sentido.

A fábrica atualmente fica em Santo Amaro, na cidade de São Paulo, e atende 54 unidades: 52 no Brasil e 2 em Paris, na França. Com a nova fábrica, a Dengo planeja expandir para 250 lojas até 2030. A empresa não divulga dados de faturamento e receita, mas a adoção de um modelo socioambiental não significa abrir mão de lucro e crescimento. A companhia espera entrar no positivo este ano, enquanto investe na nova unidade de produção. Sustentabilidade começa com ser financeiramente sustentável, mas existe um tempo durante o qual se investe para que essa empresa seja lucrativa. Para a Dengo, esse tempo não está sendo curto, mas o modelo de negócio não é o fator primordial dessa demora. A empresa, criada em 2017, teve seu ponto de equilíbrio (break even) adiado por dois eventos: a pandemia, que fechou as lojas; e a alta do preço do cacau, que passou de US$ 2.500,00 por tonelada na Bolsa de Nova York para US$ 10.500,00 por tonelada na máxima paga pela Dengo.

Apesar dessa explosão de custos, a empresa paga um prêmio aos seus fornecedores como parte dos princípios que levaram à sua criação. A marca nasceu com o propósito de transformar a vida dos pequenos e médios produtores do sul da Bahia. Os fundadores Guilherme Leal e Estevam Sartoreli observaram a região onde, nos anos 2000, se instalou uma pobreza muito grande depois de a vassoura de bruxa ter arrasado as plantações de cacau. Eles entenderam que era importante reconstruir e dar oportunidade para que aquelas pessoas desenvolvessem um cacau de altíssima qualidade e retomassem sua renda. Inicialmente, a Dengo chegou a pagar 120% acima da cotação do cacau commodity aos seus fornecedores. Atualmente, cerca de 200 famílias da Bahia e da Amazônia plantam cacau para a Dengo. Elas utilizam um sistema de cultivo sustentável chamado cabruca, que não gera desmatamento, mantendo a Mata Atlântica remanescente e protegendo a biodiversidade.

Esses produtores têm assistência de profissionais da empresa e do Centro de Inovação do Cacau (CIC), um laboratório da Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus. Este ano, venderão 500 toneladas de cacau à Dengo. Como a plantação é feita em meio à floresta, esses agricultores fornecem outros itens presentes nas propriedades e usados nos chocolates da Dengo. A empresa percebeu, logo no início, que se uníssemos tudo isso (as castanhas do Brasil, as frutas e o cacau) conseguiria gerar uma renda ainda maior para o produtor. Destaque para os sabores exóticos e com a "cara do Brasil" desenvolvidos pela Dengo, como cupuaçu com castanha e cacau 70% ou limão com tapioca. O crescimento da produção de chocolates previsto com a instalação da segunda fábrica não mudará essa dinâmica. Hoje, o entrave não é a qualidade do produto. É espaço em fábrica, pois as máquinas estão operando a 100% da capacidade. A matéria-prima não é o problema já um pouco mais de 200 famílias produzem para Dengo, mas somente na Bahia existem mais de 5 mil famílias das quais a empresa poderia comprar o cacau e investir nesse produto de qualidade.

A determinação em ser uma marca pautada pelo impacto social e a sustentabilidade não se encerra na produção do cacau. A Dengo tem várias ações para fazer a compensação de carbono, se colocando voluntariamente nas metas de Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil, nome dado aos planos de ação climática que cada país apresenta à Organização das Nações Unidas (ONU). Além disso, utiliza 7% de plástico nas suas embalagens, mas persegue a meta de "plástico zero". Recentemente, lançou, depois de dois anos de pesquisa, a primeira trufa em embalagem de zero plástico do mundo. Foram testados mais de 20 protótipos e chegou a essa embalagem totalmente de papel. A embalagem não foi patenteada, pois a Dengo entende que quanto mais empresas do mundo usarem esse material, melhor. Em uma parte das embalagens, a marca utiliza a chita, um tecido barato, colorido e associado ao folclore brasileiro. A ideia da empresa é que, posteriormente, o consumidor reutilize o material em, por exemplo, almofadas ou jogos americanos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.