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28/May/2025

Portos: entrevista Rogério Zampronha - Porto Açu

À frente da Prumo Logística, holding que administra o Porto do Açu, no norte do Rio de Janeiro, e outras empresas, Rogério Zampronha, CEO do grupo, está empolgado com os resultados obtidos com o projeto. Boa parte deles está alicerçada em pilares focados na sustentabilidade. Com dez anos, o Porto do Açu, hoje, no Brasil, só perde para o Porto de Santos (SP) em movimentação de carga. O empreendimento, perto da divisa do Rio de Janeiro com o Espírito Santo, foi idealizado pelo empresário Eike Batista, em 2007, e seu grupo EBX. A Prumo, por meio da EIG Global Energy Partners, abraçou a ideia em 2014, após o colapso do empreendimento de Eike. Segue a entrevista.

A sustentabilidade está no centro da estratégia da Prumo Logística?

Rogério Zampronha: A sustentabilidade é central à nossa estratégia, não é algo acidental. E isso acontece por diversas razões. Trabalhamos com três pilares principais: a geração de negócios sustentáveis no nosso ecossistema, a redução da nossa própria pegada de carbono e o uso da sustentabilidade como vetor de desenvolvimento econômico e social, principalmente na região onde atuamos.

O primeiro pilar que o sr. menciona é a geração de negócios sustentáveis. Como isso se concretiza no Porto do Açu?

Rogério Zampronha: Criamos o primeiro hub de produção de hidrogênio de baixo carbono da América Latina. É um espaço de um milhão de metros quadrados licenciado para a produção de produtos de baixo carbono. Quando começamos, a ideia era que levaríamos quatro ou cinco anos para atrair empresas, mas no primeiro ano esgotamos toda a área disponível com acordos firmados com empresas estrangeiras - como a Fuella, da Noruega, a Yamna, da Inglaterra, a HIF Global, americana com base no Chile, e a Sempen, outra multinacional. Elas produzem ali amônia verde, hidrogênio, e-gasolina e outros produtos.

Qual é a razão desse sucesso?

Rogério Zampronha: Temos uma vantagem natural. O porto tem 130 quilômetros quadrados - o equivalente a uma Manhattan e meia. Temos mais de sete quilômetros de cais e uma imensa área retroportuária para instalação industrial. E o Brasil tem grandes virtudes: regimes de vento, insolação, abundância de água e biomassa. Isso nos posiciona como líderes na produção de combustíveis limpos, como biocombustíveis e hidrogênio verde. Esses combustíveis são utilizados na descarbonização do setor marítimo, na indústria e para exportação.

Há também uma conexão direta com o mercado nacional ou todo o ecossistema é voltado para a exportação?

Rogério Zampronha: Sim, também estamos voltados para o mercado brasileiro. Por exemplo, a amônia verde é insumo para fertilizantes - e o Brasil importa mais de 90% do que consome. O metanol verde, que também será produzido no hub, é um substituto do diesel marítimo e um componente da cadeia dos biocombustíveis. O Brasil importa praticamente todo o metanol que usa. Com o sucesso do primeiro hub, já começamos o licenciamento de mais 2,5 milhões de metros quadrados para expansão.

No caso da redução da pegada de carbono, quais os resultados palpáveis já obtidos?

Rogério Zampronha: Temos como meta ser o porto com a menor emissão de CO2 do Brasil - e das menores do mundo. Medimos todas as nossas emissões e buscamos alternativas constantemente. Por exemplo, a nossa térmica Gás Natural Açu tem a menor emissão de CO2 por megawatt entre todas as que operam no País. Fizemos também a primeira operação com HVO, um biocombustível renovável para navegação de curtas distâncias - nunca antes usado no Brasil. Firmamos também um acordo com uma empresa de rebocadores para usar energia renovável em determinadas operações. Isso reduz significativamente a pegada de carbono desse meio de transporte.

E o terceiro pilar da estratégia envolve impacto social. Do que estamos falando exatamente?

Rogério Zampronha: Criamos uma Reserva Particular do Patrimônio Natural, a Reserva Caruara, com 40 quilômetros quadrados adjacentes ao porto - a maior reserva privada de restinga do Brasil. Lá cuidamos de mais de 120 espécies animais, mais de 20 em risco de extinção. Temos um viveiro de plantas nativas que permite expandir a reserva como compensação ambiental de novos projetos no porto. Também firmamos parceria com o projeto Tamar - temos uma das maiores bases de proteção de tartarugas do País. Também contratamos jovens de São João da Barra, onde o porto está localizado, como guias da reserva. A Caruara virou ponto de ecoturismo no Rio de Janeiro. Recebemos cerca de cinco mil visitantes por mês, principalmente alunos das escolas da região, de forma gratuita. Isso gera oportunidade econômica, promove educação ambiental e fortalece nosso compromisso com o desenvolvimento da região.

E a conta dessas ações sustentáveis estão fechando?

Rogério Zampronha: Não acredito em ações sustentáveis apenas por “ter um bom coração”. Elas só são sustentáveis de verdade se fizerem sentido econômico. Precisam fechar a conta, senão não são perenes. É isso que garante que essas ações continuem no longo prazo e que realmente impactem positivamente o meio ambiente e a sociedade.

Qual o impacto atual do Porto do Açu em termos de movimentação portuária para o Brasil?

Rogério Zampronha: O porto completou dez anos de operação em outubro do ano passado. Ainda somos jovens, mas já superamos o Porto de Santos no número de embarcações que nos acessam, pelo segundo ano consecutivo. Claro que Santos é imbatível em contêineres, mas temos muitas embarcações de apoio à produção de petróleo no pré-sal, o que gera um alto volume de movimentações. Esse grande número de embarcações cria uma base de consumo relevante para os novos combustíveis que produzimos e testamos ali. Muitas das empresas que operam conosco são multinacionais que buscam descarbonizar suas cadeias. Encontram aqui uma multiplicidade de soluções que poucos portos no mundo conseguem oferecer. (Eduardo Geraque, especial para o Estadão)

Fonte: Broadcast Agro.