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19/Aug/2025

Armazenagem: déficit brasileiro exige investimentos

Segundo o Itaú BBA, o Brasil precisa investir R$ 102 bilhões para eliminar um déficit de 92 milhões de toneladas em sua capacidade de armazenagem de grãos, equivalente a 30% da produção nacional de soja e milho. A capacidade estática total do País alcançou 213 milhões de toneladas em 2025, com avanço de apenas 0,5% ante 2024. No mesmo intervalo em que a produção de soja e milho cresceu 6% ao ano desde 2010, a estrutura de armazenagem avançou em ritmo muito inferior, de apenas 3% anuais. O déficit de armazenagem brasileiro frente às sucessivas safras recordes exige investimentos maciços em novos armazéns, sobretudo nas regiões onde a produção cresce mais rápido que a infraestrutura. Mato Grosso, maior produtor nacional, é exemplo do problema. O Estado possui 52,3 milhões de toneladas de capacidade instalada, cerca de 25% do total nacional, mas isso cobre apenas 49% de sua produção de soja e milho, ou seja, há um déficit de 51%.

Outros Estados enfrentam gargalos ainda maiores: Rondônia consegue armazenar apenas 25% do que colhe (déficit de 75%), Roraima 37% (déficit de 63%), Maranhão 39% (déficit de 61%), Pará 41% (déficit de 59%) e Tocantins 44% (déficit de 56%). Na região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), os déficits de armazenagem chegam a 60% em algumas áreas. Grande parte da safra nessas áreas precisa ser transportada imediatamente por falta de armazéns próximos. A situação obriga produtores a escoar grãos no pico da colheita, quando preços tendem a ser menores e fretes mais caros. Por outro lado, há Estados com superávit relevante. São Paulo tem capacidade para armazenar 175% de sua produção, ou seja, um excedente de 75%. No Rio Grande do Sul, o superávit é de 69%, e em Santa Catarina, de 4%. A disparidade regional exige uma expansão direcionada, focada nos polos de maior crescimento produtivo.

O número de unidades armazenadoras ativas no Brasil chegou a 11.921, com o Rio Grande do Sul liderando em instalações (3.278), reflexo da presença histórica de cooperativas e propriedades menores. Mato Grosso, embora tenha a maior capacidade total, possui menos unidades, indicando estruturas de maior porte. O volume, no entanto, não acompanha o ritmo da produção, criando gargalos que se intensificam a cada safra. A comparação internacional reforça a disparidade brasileira. Os Estados Unidos possuem capacidade de 615 milhões de toneladas, quase três vezes superior à brasileira, com 65% dos silos instalados dentro das propriedades. No Brasil, apenas 17% da estrutura está nas fazendas, forçando a dependência de armazéns externos. Nos Estados Unidos, o produtor consegue colher e armazenar os grãos em seus próprios silos, ganhando flexibilidade logística e comercial. No Brasil, a dependência de armazéns terceirizados obriga muitos produtores a escoarem rapidamente a safra.

Os custos de construção também aumentaram drasticamente. Em 2019, o valor médio por tonelada instalada era de R$ 700,00. Em 2025, subiu para R$ 1.100,00 por tonelada, alta de 57% que reflete o encarecimento de materiais e equipamentos. Um projeto de 6 mil toneladas exige investimento de R$ 6,6 milhões, incluindo obras civis, secador, gerador e balança, valores que inviabilizam a expansão para muitos produtores. O acesso a crédito é outro gargalo. O Plano Safra 2024/2025 previa R$ 7 bilhões para o Programa de Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), mas apenas R$ 3,5 bilhões foram efetivamente contratados. Para 2025/2026, o orçamento foi reduzido para R$ 4,5 bilhões, com juros entre 8,5% e 10% ao ano para projetos de diferentes portes. A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) estima que o ideal seria algo entre 6% e 6,5% ao ano para tornar os investimentos viáveis. Nos Estados Unidos, financiamentos específicos para armazenagem operam com taxas de 4,6% a 4,75%, com prazos de até 12 anos, condições bem mais favoráveis que as brasileiras.

Sem políticas públicas mais efetivas e condições de crédito adequadas, o gargalo de armazenagem pode limitar o potencial de crescimento do agronegócio brasileiro e reduzir a competitividade do País no mercado global. É fundamental que políticas públicas e incentivos ao investimento, tanto privados como governamentais, sejam amplamente fortalecidos, priorizando a modernização e a ampliação da infraestrutura de armazenagem, sobretudo nas propriedades rurais. A falta de estrutura de armazenagem nas propriedades rurais brasileiras compromete a renda de produtores e amplia custos logísticos no pico da colheita. 41% dos produtores com armazém próprio obtiveram ganhos adicionais de 6% a 20% nas últimas três safras ao poderem escolher o melhor momento para vender os grãos. Com o silo, o produtor ganha poder de negociação e possibilidade de melhora nas receitas. O caso de Sorriso (MT) ilustra o impacto. A média da soja na cidade foi de R$ 103,00 por saca de 60 Kg em março de 2024, durante a safra.

Em outubro, na entressafra, subiu para R$ 132,00 por saca de 60 Kg. A diferença de R$ 29,00 por saca de 60 Kg representa uma valorização possível para quem tem estrutura para postergar a venda. Sem espaço adequado, parte da safra é obrigada a seguir imediatamente para terminais ou armazéns comerciais, geralmente no pico da colheita, quando os preços estão pressionados e o custo do frete mais alto. Em anos de safras recordes, o caminhão vira armazém. Carretas cheias acabam estacionadas, servindo de estocagem improvisada até conseguirem descarregar. A dependência de rodovias agrava o problema. Cerca de 60% dos grãos no País são transportados por caminhões, contra 30% em ferrovias e 10% em hidrovias. O uso intenso das estradas resulta em gargalos logísticos, especialmente nas regiões produtivas mais distantes dos portos. Um exemplo é o trajeto de Mato Grosso ao Porto de Santos (SP), que custa em torno de US$ 84,00 por tonelada, segundo estudo da Esalq-LOG em parceria com o USDA.

O valor representa 73% do custo total para entregar a carga até Xangai, na China, que soma US$ 116,00 por tonelada. O transporte interno encarece muito o produto brasileiro. A infraestrutura insuficiente obriga a movimentação concentrada dos grãos no curto espaço pós-colheita. Em regiões como o Matopiba, as distâncias até os portos de exportação chegam a 2.500 Km. Na Região Centro-Oeste, as fazendas ficam entre 600 e 700 Km de um terminal ferroviário ou portuário. Com poucas alternativas ao modal rodoviário e escassez de silos locais, os produtores são forçados a aceitar prazos e preços desfavoráveis. Os fretes sobem durante a safra, e o diesel representa cerca de 50% do custo total do transporte. Em 2024, mesmo com supersafra, parte do milho foi armazenada a céu aberto em Mato Grosso, evidenciando a carência de estrutura. Essa prática se torna recorrente em temporadas com produção recorde. O problema não é novo, mas se intensificou com o descompasso entre a produção agrícola e os investimentos em armazenagem.

O custo para armazenagem de soja em Mato Grosso passou de R$ 73,00 por hectare em 2016/2017 para R$ 234,00 por hectare em 2024/2025. Em termos de sacas por hectare, o custo aumentou de 1,1 para 2,1 no mesmo período. Estruturas modernas, com termometria e aeração, possibilitam armazenagem por meses com perdas mínimas de qualidade, mas exigem altos investimentos. Como alternativa emergencial, o uso de silo bolsa tem crescido. Trata-se de uma tecnologia de origem argentina, composta por bolsas plásticas de grande capacidade que podem ser instaladas temporariamente no campo. Em 2024, a importação dessas bolsas resultou em capacidade adicional de armazenagem de 17,1 milhões de toneladas. Ainda assim, são estruturas vulneráveis, com uso limitado a uma safra. A falta de armazenagem impacta também o escoamento portuário.

São frequentes os congestionamentos nas vias de acesso aos portos de Paranaguá (PR) e Santos (SP), com filas de caminhões aguardando para descarregar. Esse represamento afeta o fluxo e aumenta os custos logísticos. A malha ferroviária brasileira tem cerca de 30 mil Km, mas apenas um terço está em operação comercial, atendendo de forma parcial a regiões como o Centro-Sul. As hidrovias cresceram no chamado Arco Norte, corredor de exportação que inclui rios como Teles Pires, Tapajós e Amazonas, mas permanecem subutilizadas. Em algumas regiões, 79% do escoamento de grãos ainda é feito por rodovias. O Brasil precisa investir na expansão da capacidade de armazenagem dentro das propriedades para ganhar flexibilidade logística e reduzir perdas. Investir em armazenagem não se limita a resolver um problema operacional, mas representa uma estratégia essencial para garantir maior estabilidade de preços, redução de perdas e valorização da produção nacional. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.