29/Aug/2025
Segundo a Unesp Ilha Solteira, outorga morosa, energia cara e crédito restrito formam o "tripé" que impede expansão mais rápida da irrigação no Brasil, que cresce apenas 300 mil hectares por ano apesar do potencial de 54 milhões. Existe uma discrepância, uma variabilidade muito grande entre as diferentes agências ambientais dos diferentes Estados. Isso já é um entrave, demora, é moroso, cada Estado tem um comportamento, e tem muito viés ideológico. Na energia, o gargalo é transmissão. O País não tem problema de geração, que já bateu 92% da geração renovável. Mas, 1 quilômetro de uma linha de energia custa R$ 200 mil. Se eu precisar trazer essa energia de cinco quilômetros, são um milhão, um pivô central de 50 hectares. A energia deveria ser oferecida pela concessionária, porque ela vai vender, ela vai lucrar o tempo todo. Foi rebatido o mito de que a agricultura desperdiça 70% da água.
Qualquer local do mundo que tenha chuva de mil milímetros ou mais por ano não pode ter problema de falta de água. Se existe limitação de água, falta capacitação, planejamento, investimento. A irrigação utiliza o conceito de uso consultivo: a água não vai desaparecer. Uma evapotranspiração de 4 milímetros significa 40 mil litros de água por hectare. Essa água vai para a atmosfera limpa, pura e vai devolver na forma de chuva limpa e pura. Até água poluída pode ser usada em culturas não folhosas. Se pegar a água do Rio Tietê, poluída, e botar num sistema de irrigação, se milho, soja, algodão, a planta vai crescer, vai florescer, vai produzir, sequestrar mais CO2, devolver O2 e entregar receita. O Brasil possui tecnologia de ponta, a melhor do mundo. Os Estados Unidos não fazem o manejo da irrigação como as empresas brasileiras fazem. As empresas brasileiras de manejo, nascidas em universidades públicas, prestam serviços para dezenas de países, incluindo os Estados Unidos.
A digitalização revolucionou o controle, que pode ser feito pelo celular. O manejo continua sendo desafio diário. É como verificar o tanque de combustível no carro. Todo dia é preciso ver como está o armazenamento de água no solo, quanto foi a evapotranspiração. O conceito de produtividade da água é quantos quilos se produz para cada mil litros de água. A água aplicada além da zona radicular significa redução na produtividade da água. As mudanças climáticas tornam a irrigação essencial. Os extremos estão presentes: excesso de chuva ou falta de chuva. Segurança hídrica é segurar a água na bacia e colocar água às plantas para que ela expresse a máxima produtividade. O Brasil tem vocação para alimentar o mundo, e não se pode estabelecer que as coisas são excludentes. Os produtores que irrigaram soja colheram mais de 70 sacas de 60 Kg por hectare na safra 2023/2024, contra apenas 30 sacas de 60 Kg no plantio de sequeiro em áreas afetadas pela estiagem.
A diferença de 40 sacas de 60 Kg comprova a viabilidade econômica do investimento. O produtor de sequeiro investiu 52 sacas de 60 Kg e colheu 30, ficou no prejuízo. Quem irrigou gastou 57 sacas de 60 Kg totais, incluindo 3 a 4 sacas de 60 Kg no sistema, e colheu 80 sacas de 60 Kg. Sobrou lucro de mais de 20 sacas de 60 Kg. Esse é o custo da não irrigação que ninguém calcula. O Brasil usa apenas 9 milhões de hectares irrigados de um potencial de 54 milhões de hectares sem desmatar, representando 17% da capacidade total. A expansão de 300 mil hectares anuais é considerada lenta. O desafio do Brasil não é perder área irrigada como outros países, mas ampliar. Na cana-de-açúcar, o retorno vem em três a quatro safras. Do jeito que fizer a conta, com gotejo ou pivô central, o investimento se paga nesse prazo. O ciclo produtivo se estende de 6 para 12 ou 13 anos. Em São Paulo, a produtividade média caiu para 68 toneladas por hectare, quando o ponto tradicional de renovação era 80 toneladas.
A Irrigação garante estabilidade e longevidade do canavial. A irrigação pode multiplicar a produção em 2,5 a 2,7 vezes em áreas específicas, viabilizando conversão de pastagens degradadas. Em solo com 85% de areia, um pivô de 77 hectares permite 479 novilhas de 250 Kg ganharem 1,1 Kg/dia. Quem viabiliza integração lavoura-pecuária são os sistemas de irrigação. Para construir solo arenoso, precisa colocar raiz, e isso só acontece com segurança hídrica. A irrigação não aumenta o potencial genético da soja, mas garante que seja alcançado. A genética define o teto, fertilizantes e água permitem chegar. Se chover certo, irrigação não faz diferença. Quando falha, o sistema assegura máxima produtividade. Com extremos climáticos frequentes, a decisão se torna inevitável. É um processo amadurecido, demorado. Tem gente que não acredita mesmo com argumentos econômicos e climáticos. Mas, com a esteira da competitividade se acelerando, incorporar tecnologia é questão de sobrevivência. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.