19/Sep/2025
O levantamento mais atual da Clean Energy Latin America (Cela) indica a presença de 111 projetos ligados à produção de hidrogênio verde no Brasil. O problema, entretanto, é o ritmo de maturação das iniciativas. "Os passos estão sendo dados, mas os desafios são muitos", afirma a CEO e fundadora da Cela, Camila Ramos, vice-presidente de Investimentos e Hidrogênio do conselho de administração da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).
A falta de regulamentação da Lei 14.990/2024, sancionada em setembro do ano passado, que estabeleceu a Política Nacional do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono, ainda é um entrave. O texto prevê R$ 18 bilhões em incentivos fiscais entre 2028 e 2032 para descarbonizar setores da indústria, como o de transportes. A regulamentação, que daria mais segurança jurídica aos investidores, é considerada essencial para destravar projetos em ‘banho-maria’. "No caso do Brasil, um dos grandes potenciais do hidrogênio verde é a produção de fertilizantes", explica Camila.
Você está otimista em relação ao futuro do hidrogênio verde no Brasil?
Camila Ramos: Diria que está avançando na velocidade de uma nova tecnologia. Os passos estão sendo dados, mas os desafios são muitos. Então, prefiro falar em evolução do que em otimismo.
Quais são os desafios?
Camila Ramos: O preço é um gargalo importante. Como toda nova tecnologia, ela começa mais cara e, com o tempo e a produção em grande escala, vai reduzindo custos. Hoje, o eletrolisador - equipamento que quebra a molécula da água para produzir hidrogênio - ainda é muito caro. Existem poucas fábricas desse equipamento no mundo, o que impacta o desenvolvimento do setor.
E em relação aos entraves regulatórios?
Camila Ramos: Há um ano foi publicada a Lei do Hidrogênio de Baixo Carbono, mas nenhuma regulamentação saiu até agora. É essa regulamentação que, na prática, faz as coisas acontecerem.
Mesmo sem essa regulamentação, os projetos estão caminhando?
Camila Ramos: Sim, estão avançando. Temos projetos amadurecendo, passando por fases como licenciamento, negociação com compradores, discussões com bancos para financiamento, além da definição de quem vai construir e desenvolver as tecnologias.
O desenho das iniciativas é mais voltado para o mercado interno ou externo?
Camila Ramos: Ambos. Existem projetos voltados para descarbonizar a agricultura brasileira, por exemplo, por meio da produção de fertilizantes. Há também iniciativas para fabricar aço verde aqui e exportar. O Brasil tem potencial para atender ao mercado interno e ao externo.
Fonte: Broadcast Agro.