14/Out/2020
Uma legislação que entrou em vigor em 2000 transformou o Brasil em referência no reaproveitamento de embalagens plásticas de defensivos agrícolas, material altamente tóxico. Atualmente, de todas as embalagens vendidas no País que tiveram contato direto com agrotóxicos, 94% têm destino ambientalmente correto: são recicladas, transformadas novamente em embalagem do mesmo produto ou incineradas em local apropriado. Na França, esse índice de reaproveitamento é de 75%; no Canadá e na Alemanha, de 70%, e no Japão, de 50%. Segundo o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV), nos Estados Unidos, país desenvolvido com dimensões parecidas com as do Brasil e forte na agricultura, esse índice é abaixo de 30%.
Foram compilados dados do retorno das embalagens de agrotóxicos entre 60 países e o Brasil tornou-se referência nessa logística reversa. O resultado ganha relevância especialmente no momento em que a agenda ambiental se torna ponto crucial para negociação de acordos comerciais entre os países e atração de investimentos estrangeiros para o País. Segundo o inpEV, que reúne a indústria de defensivos e associações de distribuidores e agricultores, a lei regulamentou o destino das embalagens, criando atribuições e responsabilidades para indústrias, produtores e distribuidores. Antes, a recomendação era que o agricultor enterrasse a embalagem vazia, prática que trazia risco de contaminação do solo.
Como não havia solução para o descarte, havia agricultor que as queimavam a céu aberto, o que era muito ruim para o meio ambiente. Outros reutilizavam as embalagens plásticas para armazenar leite e água, por exemplo. Com a lei, a implantação do programa de logística reversa, batizado de “Sistema Campo Limpo” e administrado pela entidade, ganhou força. O agricultor fica responsável por lavar a embalagem três vezes, inutilizá-la para evitar o reuso e devolvê-la para a indústria até um ano após a compra. O revendedor tem de indicar na nota fiscal o local da devolução e a indústria é responsável pela logística de transporte e pela destinação ambientalmente adequada. O programa custa cerca de R$ 140 milhões ao ano e pouco mais da metade da cifra vem do próprio sistema.
É dinheiro proveniente da produção e venda da embalagem reciclada e outros produtos a preços de mercado. Em 2008, foram criadas duas indústrias dentro desse sistema em Taubaté (SP). A Campo Limpo Reciclagem e Transformação de Plástico produz novas embalagens para defensivos usando 85% do plástico reciclado. A Campo Limpo Tampas e Resinas Plásticas fabrica tampas e outros artefatos como conduítes, dutos e tubos com 100% do plástico reciclado. Esse é o conceito de economia circular, que cria valor não só para dentro do sistema, mas também para a sociedade, gerando empregos.
De março de 2002 a setembro deste ano, 589,3 mil toneladas de embalagens vazias foram retiradas corretamente do campo. De cada 100 devolvidas, 94 são recicladas no próprio sistema e seis, incineradas. Se houvesse alguma remuneração, o incentivo seria maior e não haveria embalagem rejeitada por não ter sido lavada corretamente. Segundo a Cooperativa dos Produtores de Arroz do Vale do Paraíba, o inpEV é beneficiado, pois tem matéria-prima para novas embalagens com custo baixo. No entanto, com esse sistema, o produtor se livra de uma embalagem que só lhe dava problemas. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.