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31/Ago/2022

Máquinas: corte no Moderfrota prejudicará vendas

A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) se disse surpreendida pela decisão do governo de cortar recursos de linhas de investimentos a fim de suplementar o Pronaf, informada em despacho da Secretaria do Tesouro Nacional deste mês. A redução, que abrange o Moderfrota, principal programa de financiamento de máquinas agrícolas do País, não era esperada porque o Plano Safra 2022/2023 foi lançado oficialmente há apenas dois meses. A decisão deve levar à queda das vendas de máquinas e equipamentos, diante das taxas de juros praticadas em linhas de financiamento comerciais, mais altas em razão da Selic.

Até outubro, as vendas ainda devem ir bem, mas a partir de novembro o setor teme uma retração, em virtude dos juros altos. A perspectiva do relatório Focus do Banco Central é a inflação ser cadente no ano que vem e em 2024. Então, se o produtor puder esperar ele irá fazer isso, para não se comprometer a pagar por sete anos parcelas com juros altos. Não falta dinheiro e não vai faltar, tem CPRs (Cédula de Produto Rural), linhas de bancos comerciais, cooperativas de crédito, o BNDES Crédito Rural (linha do banco com juros de mercado), mas o grande problema são as taxas, porque o custo de captação hoje é basicamente Selic. A observação considera que linhas de investimentos de mercado custam a Selic, hoje de 13,75% ao ano, mais o spread cobrado pelas instituições financeiras.

De modo geral, os bancos não têm cobrado acima do percentual fixado pelo BNDES para sua linha sem equalização, a BNDES Crédito Rural, hoje em torno de 15,5% ao ano. O corte promovido pelo Tesouro abrange vários programas de investimentos, como Moderfrota, Inovagro, Moderagro, ABC, Procap-Agro, Prodecoop e Proirriga, e permitiu ao governo remanejar para o Pronaf mais R$ 1,8 bilhão, de um total adicional de R$ 6,54 bilhões. Com isso, o programa focado na agricultura familiar passou a ter R$ 60,1 bilhões, 12% acima dos R$ 53,6 bilhões previstos inicialmente no Plano Safra 2022/2023. Boa parte dos cortes atingiu recursos que seriam distribuídos pela Caixa, mas também houve diminuição de crédito de uma das linhas operadas pelo BNDES, além de elevação dos montantes equalizáveis de linhas do BNDES e do Banco do Brasil.

No caso da Caixa, o total que seria ofertado pelo Moderfrota e que deixará de chegar aos produtores é de R$ 1,4 bilhão. Outras linhas de investimentos do banco que perderam 100% dos recursos previstos para a safra 2022/2023 foram a "Investimento Empresarial", que tinha previsto cerca de R$ 1,462 bilhão; a do programa Inovagro, que contava com R$ 650 milhões; Procap-Agro, ao redor de R$ 1,822 bilhão; Prodecoop, em torno de R$ 1,898 bilhão; Proirriga, R$ 852,714 milhões; Moderagro, R$ 130 milhões; ABC+ Ambiental, R$ 345 milhões. O Tesouro também reduziu parcialmente o montante de outras linhas operadas pela Caixa.

Com R$ 1,4 bilhão a menos, o Moderfrota, que inicialmente teria R$ 10,16 bilhões nesta safra, passa a contar com R$ 8,76 bilhões, pouco mais de R$ 1 bilhão acima dos R$ 7,53 bilhões anunciados para o ciclo 2021/2022 e valor bem distante dos R$ 32 bilhões demandados pela Abimaq ao governo para a temporada 2022/2023. No BNDES, os cerca de R$ 5,983 bilhões do Moderfrota que o banco teria para distribuir na atual temporada já se esgotaram. Além de Caixa e BNDES, as outras instituições autorizadas pelo governo federal a oferecer crédito pelo programa foram o Banco do Brasil, com R$ 2 bilhões, Banrisul, com R$ 650 milhões, e as cooperativas de crédito Cresol, com R$ 10 milhões, e Sicredi, com R$ 120 milhões.

Pelos relatos de executivos das empresas associadas à Abimaq, as carteiras, ou seja, o número de pedidos novos, vêm recuando desde junho, quando foi lançado o Plano Safra, algo não esperado nesta época do ano. Geralmente, o maior período de compras de maquinário por parte dos produtores se inicia em março, quando começam a ser realizadas as feiras agropecuárias do Brasil, e vai até agosto, antes do plantio da safra de grãos. O menor apetite dos produtores decorre dos juros mais altos estabelecidos pelo governo para o Moderfrota, bem como a previsão de menor rentabilidade das lavouras, principalmente de soja e milho, na safra 2022/2023. Os agricultores acharam os juros do Moderfrota, de 12,5% ao ano, altos.

Na safra 2021/2022, as taxas do programa eram de 8,5% ao ano. Uma opção de crédito com taxa mais baixa que as de mercado é a linha Investe Agro, do Banco do Brasil, que financia bens duráveis, incluindo máquinas agrícolas, com custo semelhante ao do Moderfrota. O Banco do Brasil alocou cerca de R$ 10 bilhões nesta linha. A taxa menor é possível porque a fonte do dinheiro é a poupança, mais barata que recursos com custos atrelados à Selic. O dinheiro ainda seria insuficiente para suprir a demanda do setor, mas houve sinalização por parte do Banco do Brasil de que a oferta poderia aumentar caso o dinheiro se esgote.

A Caixa também estava trabalhando com linha sem equalização do governo de custo semelhante ao Moderfrota, mas com a troca na presidência, não se sabe o que o banco vai fazer. A entidade pediu uma audiência com a nova presidente da Caixa porque o setor precisa de previsibilidade. O presidente anterior da Caixa anunciou, em abril, a disponibilidade de crédito para financiamento de máquinas agrícolas com taxa a partir de 9,5% ao ano, em um momento em que os recursos do Plano Safra 2021/2022 estavam congelados por falta de dinheiro do Tesouro para equalizar taxas. Até junho, as vendas de máquinas e equipamentos agrícolas contabilizados pela Abimaq superavam em 10,9% o valor apurado em igual período do ano passado.

Com a perspectiva de desaceleração no segundo semestre, a previsão atual é fechar 2022 com vendas 7,5% acima das de 2021. Apesar da perspectiva de menor apetite de produtores para adquirir novas máquinas, há necessidade de renovação de frota no Brasil. Neste ano há previsão de aumento de área, principalmente na Região Centro-Oeste, onde não tem máquina sobrando. Mesmo assim, o mercado pode recuar no primeiro semestre do ano que vem, se forem mantidas as condições atuais de futuros de commodities e taxas de juros. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.