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19/Mai/2023

Armazenagem: capacidade é insuficiente no Brasil

A safra de soja 2022/2023 começou com preocupações na América do Sul, diante da ocorrência do fenômeno climático La Niña pelo terceiro ano consecutivo. Contudo, o Brasil "driblou" as expectativas de perdas e está finalizando uma colheita recorde, estimada pela consultoria StoneX em 157,7 milhões de toneladas de soja, que poderia ser ainda maior, não fosse a quebra ainda registrada no Rio Grande do Sul. Essa enorme safra brasileira compensou o forte recuo da produção argentina, que não escapou dos efeitos de La Niña, com a seca reduzindo o potencial produtivo do país em mais de 50%. A Bolsa de Rosário estima a safra argentina de soja em apenas 21,5 milhões de toneladas.

Mesmo com as questões que a quebra argentina traz para o mercado da oleaginosa, como o aumento das importações do país, a redução das exportações de farelo e óleo, com os compradores buscando alternativas, esse cenário não foi suficiente para dar sustentação aos preços do grão, que estão pressionados nos últimos meses. A grande disponibilidade de soja no Brasil é o principal condicionante dos preços mais baixos, aliada às questões de infraestrutura deficiente por aqui. É de amplo conhecimento que a maior parte dos grãos é transportada por rodovias no País, modal mais caro e ineficiente, principalmente para longas distâncias, que são comuns no escoamento da soja e do milho.

Contudo, o ponto que gostaria de destacar neste artigo é a capacidade estática de armazenamento, que fica muito abaixo da produção, com o produtor precisando vender logo após a colheita, quando os preços tendem a estar mais pressionados, ou armazenando os grãos em condições distantes das ideais, até mesmo a céu aberto. O problema não é a falta de investimentos em armazéns, mas o ritmo em que ocorrem. A capacidade estática vem crescendo de forma considerável, mas a produção de soja e milho avança muito mais rapidamente. Considerando os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a capacidade e os dados de produção de milho e soja (para 2022 e 2023, foram adotados os números estimados pela StoneX), observa-se que a capacidade de armazenamento do Brasil cresceu a uma taxa média anual (CAGR) de 3,38% desde 2000, enquanto a produção combinada de soja e milho avançou 6,78%.

Assim, em 2023, estima-se que o déficit total em armazenamento de grãos (soja e milho) no Brasil possa superar 100 milhões de toneladas. Devido, sobretudo, ao rápido aumento da produção agrícola no Centro-Oeste nas últimas décadas, a região concentra a maior parte dessa defasagem, mesmo com o considerável crescimento absoluto e relativo de capacidade. Enquanto em 2000, 45% da capacidade estática de armazenamento estava na Região Sul, com o Centro-Oeste perfazendo 31%, em 2023 estima-se que o Sul ficará com 37% e o Centro-Oeste ocupará o primeiro lugar, com 38% do total. De qualquer forma, do déficit estimado de pouco mais de 100 milhões de toneladas para este ano, 82 milhões se referem ao Centro-Oeste, com Mato Grosso, maior produtor de grãos do País, sendo o Estado mais deficitário em armazenamento, com um total de 48,4 milhões de toneladas.

Dentre os demais Estados deficitários, além dos da Região Centro-Oeste, destacam-se Paraná, Minas Gerais e a região do MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Vale notar que são poucos os Estados que contam com uma capacidade estática acima da produção. Ao se olhar para um histórico mais longo, após atingir um pico em 1991, a relação entre capacidade de armazenamento e produção agrícola no Brasil entrou em ampla queda, e, desde 2010, mostra tendência de aumento desse déficit. Dessa forma, observa-se que essa não é uma questão fácil de se solucionar. O Brasil conta com um amplo potencial para continuar expandindo a produção de soja e milho, não só por meio de ganhos de produtividade, mas com a vantagem de possuir áreas que podem ser convertidas para a agricultura. Por outro lado, os investimentos em infraestrutura, por mais que continuem ocorrendo, são custosos, situação que se torna ainda mais complicada ao se considerar o custo do crédito no País. Fonte: Ana Luiza Lodi. Broadcast Agro.