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11/Sep/2023

APPs de entregas de comida e embalagens plásticas

A proliferação dos aplicativos de entrega de comida deixou um gosto amargo na boca de governos, ambientalistas e todos que se perguntam como lidar com as montanhas de embalagens e talheres plásticos produzidos para atender aqueles que procuram conveniência na hora de se alimentar. Uma resposta para o problema, de acordo com um novo estudo, está numa técnica que suscitou debate: trata-se de um 'empurrãozinho' no comportamento dos usuários desses aplicativos. Ao examinar o comportamento do consumidor de um aplicativo popular de entrega de alimentos na China, uma equipe de cientistas descobriu que mensagens que incentivam os usuários a deixar de pedir talheres descartáveis podem ser bastante eficazes para reduzir o desperdício de plástico em mais de 3 milhões de toneladas por ano (se fosse implementado em todo o país). Isso equivale ao peso de dez edifícios como o Empire State Building, de Nova York.

Em vez de ordenar às pessoas que ajam de uma determinada maneira, limitando as suas escolhas ou utilizando incentivos monetários na tentativa de influenciá-las, os pequenos 'cutucões' procuram mudar as decisões alterando a forma como as escolhas são apresentadas. As evidências do estudo sobre a eficácia desse cutucão como solução para os variados problemas sociais ainda são contraditórias, mas essa abordagem no caso do aplicativo se revelou eficaz, de acordo com o estudo. Segundo a Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, as pessoas geralmente preferem ser capacitadas em vez de simplesmente ouvirem o que fazer. O estudo está na edição da semana passada da revista Science. A pandemia de Covid-19 impulsionou a popularidade dos serviços de entrega de alimentos em todo o mundo, contribuindo para um aumento no desperdício de plástico.

Os Estados Unidos, por exemplo, produziram cerca de 32 milhões de tonelada de resíduos plásticos em 2018, o último ano para o qual existem estatísticas oficiais disponíveis, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental. A organização ambiental Greenpeace estimou que esse número cresceu para 51 milhões de toneladas até 2021. Na China, onde a entrega é barata, mais de meio bilhão de pessoas usam aplicativos de entrega de comida, segundo a plataforma de dados alemã Statista. A China produziu mais de 80 milhões de toneladas de resíduos plásticos em 2021, um aumento de cerca de 30% em relação a 2018, de acordo com o Gabinete Nacional de Estatísticas da China. Para o estudo, os pesquisadores examinaram dados de 200 mil usuários do aplicativo chinês de entrega de comida Ele.me, e que foram escolhidos aleatoriamente para acompanhamento nos anos de 2019 e 2020. O aplicativo é comparável ao DoorDash, bastante popular nos Estados Unidos.

A interface padrão do aplicativo oferecia aos usuários a opção de abrir mão dos talheres de plástico, mas apenas durante a finalização da compra e na parte inferior da tela. Mas isso mudou a partir de 2019, em resposta às novas regras governamentais que exigiram redução no consumo de plástico descartável. A partir daí, os usuários do aplicativo em três grandes cidades foram apresentados a uma janela pop-out que lista "sem talheres" como opção padrão. Desse modo, os clientes que queriam receber talheres foram forçados a selecionar o número de conjuntos à parte. Quem optasse por dispensar os talheres de plástico ainda ganhava pontos para financiar o plantio de uma árvore. Os usuários nessas cidades tiveram 20% menos probabilidade de pedir talheres descartáveis junto com seus pedidos durante o período do estudo. Tornar mais explícita a opção de renunciar aos talheres de plástico funciona porque visa aos usuários no momento da tomada de decisão.

Segundo o Greenpeace, isso mostra o poder que as empresas de plataforma exercem sobre o comportamento dos comerciantes e dos usuários. Existem, no entanto, limites para a abordagem. Cerca de 11% dos usuários foram classificados como "questionadores do empurrãozinho". Antes, eles optavam por não usar talheres, mas mudaram esse hábito e passaram a pedir o envio dos talheres depois de serem expostos à mensagem pop-up, sugerindo um nível de reação contrária. Entretanto, não foi possível monitorar se os restaurantes cumpriram consistentemente as decisões dos usuários de renunciar aos talheres, levando-os a propor um estudo futuro que incluiria um sistema para os clientes darem retorno sobre a conformidade dos restaurantes com os talheres. O estudo também observa que cerca de 80% dos resíduos plásticos gerados pela entrega de alimentos chineses provêm de embalagens e não de talheres. Isso não compensará todos os resíduos plásticos já produzidos, disse o Greenpeace sobre a inadimplência de "sem talheres".

Em vez disso, as empresas deveriam procurar sistemas de reutilização, nos quais os restaurantes e cafés emprestam talheres, pratos e canecas aos consumidores mediante uma taxa que é devolvida quando os itens são devolvidos. Mesmo que a abordagem de incentivo não consiga abordar a maior fonte de desperdício, ainda poderá ter impactos potenciais significativos. Aplicado em todo o país, concluiu o estudo, poderia poupar quase 22 mil milhões de conjuntos de talheres descartáveis todos os anos, o que equivale a uma redução de mais de 6% no total de resíduos plásticos municipais. A China tem lutado contra o desperdício de plástico desde a década de 1980, quando os passageiros dos trens descartavam rotineiramente os recipientes plásticos de fast-food, jogando-os pelas janelas, enterrando os trilhos no que ficou conhecido como "poluição branca". Em 2020, o governo chinês introduziu novas regras que proíbem o plástico não biodegradável. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.