06/Feb/2024
Planejado há quase cem anos, um túnel imerso que interliga as cidades de Santos e Guarujá, em São Paulo, deve finalmente sair do papel. Após divergências, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, assinaram na semana passada o termo de cooperação técnica para a execução das obras. O principal objetivo da obra é melhorar o fluxo de pedestres, cargas e automóveis que transitam entre as duas cidades do litoral, com reflexos em pelo menos nove municípios da Baixada Santista. É uma tentativa de resolver um histórico gargalo de mobilidade, impactando a vida de dois milhões de pessoas. Um dos principais benefícios da obra é a redução do tempo na viagem entre as duas cidades. Interligando os bairros Macuco, em Santos, e Vicente de Carvalho, no Guarujá, o túnel terá 860 metros de extensão, dos quais 761 serão imersos, embaixo do canal do Porto de Santos. A travessia deve ser feita em menos de dois minutos, de acordo com a Autoridade Portuária de Santos, empresa pública responsável pela gestão do Porto de Santos.
Trata-se de um ganho em relação ao trajeto de uma hora para percorrer os 43 quilômetros de estrada que separam as duas cidades. Hoje, outra opção dos motoristas é usar uma balsa, que opera de 15 em 15 minutos, com capacidade para 872 veículos por hora. Mas ela depende da movimentação do próprio Porto de Santos. O serviço é interrompido quando os navios circulam (são 35 por dia). A média de espera é de 20 a 60 minutos. A Themag Engenharia, empresa que participou do projeto do túnel, criticou a atual interligação das cidades. Uma balsa está sujeita às incertezas da demanda de tráfego de carros, de navios e aos acidentes que já aconteceram, de colisão de balsa com navio. A pressão pública pela construção de uma ligação mais moderna tem sido tão grande que empresas e associações criaram o movimento "Vou de Túnel" para defender a passagem submersa. Segundo a 4Infra, uma obra dessa envergadura ajuda a melhorar a dinâmica urbana da região.
Essa obra pode representar um momento de transformação no desenvolvimento das duas cidades. Na parte submersa do túnel, a previsão é de que a altura calculada de 21 metros abaixo da lâmina da água não comprometa o tráfego de navios no local. A proposta para implementar o projeto, chamado "Túnel Imerso Santos-Guarujá", prevê investimentos de R$ 6 bilhões, com aportes públicos de R$ 2,7 bilhões dos governos estadual e federal, além da participação da iniciativa privada, por meio de parceria público-privada (PPP). A inauguração está prevista para 2028. A denominação "túnel imerso" tem relação com a maneira como a obra será construída. Essa técnica de fazer construções pré-moldadas na superfície, fazê-las flutuar até determinado ponto e depois fazer a imersão, ou seja, afundá-las constitui um túnel imerso. O túnel terá três faixas de rodagem no sentido do Guarujá, três no sentido de Santos, ciclovia e passagem urbana, além de espaço para o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que será adotado em uma fase posterior.
Os planos preveem a cobrança de pedágio com tarifa, que deve ficar entre os valores atuais do pedágio da Rodovia Domenico Rangoni (R$ 14,20 por automóvel) e o da balsa (R$ 12,30). Ciclistas e pedestres serão isentos. A ligação seca entre Santos e Guarujá é discutida há quase um século. As controvérsias sobre a melhor solução de engenharia estão por trás do atraso. A ponte é uma solução inadequada, porque traria uma limitação eterna de altura para o Porto de Santos. Alguns projetos também podem ter esbarrado nas dificuldades técnicas da época. Em 2011, o governo decidiu pelo túnel submerso, apresentando os projetos e o estudo ambiental para abrir a licitação, mas o processo foi cancelado em janeiro de 2015. A MMF Projetos afirmou que os atrasos podem estar relacionados à "paternidade" do projeto. Essa obra de R$ 6 bilhões traz grande disputa por visibilidade política, um dos fatores para ela nunca ter saído do papel. O cenário de disputas entre os poderes federal e estadual marcou os últimos anos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.