20/Feb/2024
A grande dependência que temos de fertilizantes importados tem sido objeto de diversos estudos, projetos e planos por parte do governo brasileiro, da academia e do setor privado. Já temos um Plano Nacional de Fertilizantes que estabelece metas para sua redução, seja pelo aumento da produção nacional, seja pela substituição de matérias-primas, inclusive com maior uso de orgânicos, seja por diversificação das fontes de fornecimento. Também cresce o uso de "pó de rocha", material que demanda um complexo nível de homogeneidade, assim como acontece com os resíduos orgânicos de indústrias diversas.
Existem alguns interessantes estudos sobre o uso da flora marinha (algas) como material gerador de fertilizantes ou rações animais. A pesquisadora Vanessa Maria Mamede Cavalcanti, hoje aposentada do DNPM, já em seu trabalho de 2011, "Plataforma Continental, a última fronteira da mineração brasileira", destacava a riqueza muito pouco explorada da costa brasileira, onde abundam minerais de origem orgânica. Os chamados "granulados bioclásticos marinhos" ou Lithothamnium são fertilizantes organominerais com potencial para corrigir solos degradados, e este é um programa muito importante do Ministério da Agricultura.
Trabalho conduzido pelo professor Weber do Amaral, da Esalq, com o efluente da destilação do etanol, a vinhaça (resíduo da destilação para etanol), demonstra que o cálcio e magnésio contidos nas algas marinhas compõem com o potássio nela contido um potente fertilizante organomineral. Com isso, as áreas com cultura da cana-de-açúcar já não demandariam mais potássio, cuja importação chega a 90% do consumo nacional. Esses minerais de origem orgânica são usados na França há mais de um século como fertilizante, bem como em outros países europeus.
Diferentemente do cálcio e do magnésio contidos em rochas, as algas calcárias contêm uma grande quantidade de minerais essenciais à vida vegetal, animal e humana, tais como iodo, selênio, zinco, enxofre, cromo entre outros com pequenas quantidades ou traços, em perfeita condição de equilíbrio. Sua superfície porosa acelera a atividade microbiana no solo, reduzindo a lixiviação do potássio e a volatilização do nitrogênio e diminuindo, portanto, o consumo de fertilizantes químicos, os NPK. As culturas de exportação brasileiras poderão reduzir a pauta de importação de fertilizantes.
Há relatos de que também os defensivos agrícolas têm sua ação potencializada com o uso das algas calcárias. Temos 8 mil quilômetros de costa marinha, com uma diversidade de algas, como as dos gêneros Kappaphycus e Asparagopsis, com um enorme potencial para contribuir com a redução de emissões do metano entérico, tornando a pecuária brasileira ainda mais sustentável e competitiva. A COP 30 que se realizará no ano que vem em Belém do Pará é uma excelente oportunidade para o País mostrar essa condição, e vale a pena investir em pesquisas e estudos mais completos sobre o tema. Fonte: Roberto Rodrigues. Broadcast Agro.