06/Mar/2024
Maior hub de inovação no setor portuário da América Latina, o Cubo Maritime & Port, divulgou nesta terça-feira (05/03) um raio X dos principais desafios e iniciativas a serem adotados para ajudar o Brasil a recuperar um atraso de décadas na área, e que coloca o País na 60ª colocação no ranking de competitividade econômica global. Criada em 2022, pelo Cubo Itaú, Hidrovias do Brasil, Porto do Açu e Wilson Sons, a empresa divulgou o "Manifesto pela Inovação no Setor Marítimo e Portuário", na Intermodal South America 2024, evento que reúne o setor até esta quarta-feira (06/03) em São Paulo. O documento foi produzido com base na entrevista de 34 stakeholders do setor marítimo, portuário e hidroviário. As empresas estão dedicadas a discutir a inovação setorial e como conseguir destravar o potencial e as tecnologias setoriais da indústria. Há exemplos de inovações bem interessantes no País, mas ainda existem gargalos regulatórios e culturais que impedem avanços mais consistentes e sustentáveis.
Quando se fala da indústria portuária, se fala de uma indústria tradicional, muito antiga, mas com tecnologia bastante avançada fora do Brasil. O documento apresenta quatro grandes desafios a serem ultrapassados para o País começar a se alinhar com as práticas internacionais: desarticulação entre organizações envolvidas em projetos inovadores; pouco incentivo à tomada de risco inteligente; falta de planejamento de longo prazo; e pouco incentivo à inovação nos processos de contratação. Um dos grandes problemas detectados é o fato de que, nos últimos 10 anos, 4 autoridades portuárias brasileiras tiveram 35 presidentes, uma média de 9 para cada órgão. É difícil ter planejamento de longo prazo se os portos públicos estratégicos para o País têm troca tão constante da alta liderança.
Do lado das soluções, o Manifesto propõe a criação de grupo de trabalho para construção de políticas de longo prazo voltadas à modernização dos portos; a realização de diagnóstico sobre a inovação no setor marítimo e portuário do Brasil, com métricas bem definidas para acompanhamento; e a premiação dos maiores avanços em inovação entre os portos; criar grupo de trabalho para construção de políticas de longo prazo voltadas à modernização dos portos. As desvantagens do setor tiram a competitividade do Brasil em relação a outros países, alertou a Hidrovias do Brasil. Hoje, o País está disputando mundialmente. 90% do comércio passa pelo mar, são US$ 5 trilhões de valor agregado dos produtos comercializados pelo mar. O mundo está muito conectado e não quer saber se está comprando do vizinho ou do outro lado do mundo, quer o melhor serviço. Existe muita ineficiência que poderia ser tratada com tecnologia e que traz resultados de curto prazo, traz um grande benefício com custos mais baixos e isso é o que o hub quer viabilizar.
Entre janeiro e setembro de 2023, os portos brasileiros movimentaram 968 milhões de toneladas, dos quais 40 milhões foram associados à navegação interior. As hidrovias têm grande relevância social e econômica, mas o seu potencial ainda é pouco aproveitado. Menos da metade dos 42 mil Km de rios navegáveis no País são utilizados para transporte de cargas e passageiros. Segundo o estudo de 26 páginas, que faz uma comparação do Brasil com países da Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) e Estados Unidos, o tempo médio de espera para atracação no Brasil é de 5,5 dias, enquanto nos Estados Unidos é de 2 dias. O tempo médio de desembaraço aduaneiro alcança 49 horas no País, contra 12,7 horas na média dos países da OCDE, com o custo chegando no Brasil a US$ 862,00 contra US$ 136,00 nos Estados Unidos.
De acordo com a Administração Portuária do Porto do Açu, há três anos a empresa aguarda autorização para implantar a tecnologia de Calado Dinâmico (utilizar as flutuações da maré para colocar mais ou menos carga no navio), já comum e vários portos do mundo há décadas. No Brasil, apenas a Suzano conseguiu autorização para a tecnologia no Portocel, no Espírito Santo, mas teve que aguardar sete anos para isso. O Brasil tem uma estrutura de controle regulatório muito pesada no setor marítimo portuário. A depender do terminal, é preciso de 29 anuências para uma aprovação. Imagina que dentro de um modelo que seja inovador, seja preciso aprovar com todos esses órgãos. Uma das frentes é engajar governo e entidades civis, assim como associações. A iniciativa quer trazer a problemática clara para cima da mesa, para ver como resolve. A demora para aprovação pelas autoridades do setor faz com que, muitas vezes, depois de aprovada, a tecnologia já esteja ultrapassada, destacou a Hidrovias do Brasil, que porém se diz otimista em relação à aceleração das medidas de modernização do setor.
Ao olhar para dentro do governo, se vê muitas pessoas preparadas e com muita vontade, isso traz um grande alento, pois percebe-se que o País está disposto a crescer. Reuniões com o governo, por meio do Ministério de Portos e Aeroportos já foram realizadas e o Manifesto é uma resposta do setor para provar que é possível inovar gradativamente e conquistar mais atratividade no mercado mundial. A proposição não é reduzir de sete anos para uma semana uma operação. Precisa ter um rito bem-feito, e que siga algumas determinadas linhas mestras para que não tragam perigo para inovação de ninguém. Mas não pode levar três anos para uma liberação como o Porto do Açu está esperando e os sete anos da Suzano. Segundo o Manifesto, o Brasil tem décadas de atraso em inovações setoriais como Serviço de Tráfego Marítimo (VTS na sigla em inglês), implantado em 1948 no Reino Unido e aqui em 2015; o calado dinâmico nas janelas de atracação, disponível nos Países Baixos desde 1985, mas aqui, somente em 2022 (a Norma da Autoridade Marítima foi publicada em dezembro de 2019); e o PCS (Port Community System), que foi implantando em algumas localidades na Europa durante os anos 1970. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.