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20/Aug/2024

Mineração: recuo no preço do ferro afeta mineradoras

O recuo dos preços do minério de ferro no mercado internacional nos últimos meses, pressionados pelo arrefecimento da economia chinesa, maior consumidor mundial da matéria-prima do aço, está afetando o valor das ações das maiores mineradoras globais da commodity industrial. As quatro gigantes que atuam na mineração de ferro, e outros metais, são, por ordem de valor de mercado, as australianas BHP e Rio Tinto, a brasileira Vale e a australiana Fortescue. De acordo com dados da consultoria Argos, o minério de ferro para entrega em Qingdao (principal porto da região norte da China) caiu para US$ 92,20 por tonelada, a mais baixa cotação desde novembro de 2022 e abaixo do valor de referência dado pelo mercado, de US$ 100,00 por tonelada.

Aponta-se que US$ 100,00 por tonelada é o valor de referência, indicando que abaixo desse piso a produção de alto custo começa a se tornar não lucrativa, segundo reportagem do jornal inglês Financial Times. Na bolsa de commodities chinesa de Dalian, no dia 16 de agosto, os contratos do minério de ferro com maior negociação, de janeiro de 2025, fecharam em queda de 0,99%, a 697 yuans (US$ 97,12) por tonelada. A China importa quase 1,2 bilhão de toneladas de minério por ano para complementar a produção própria e poder alimentar os altos-fornos de seu gigantesco parque fabril siderúrgico. Um fator que sustentava a alta dos preços até pouco tempo atrás era o setor imobiliário do país.

A crise na indústria da construção de imóveis, principalmente residenciais, levou à retração da demanda por aço na China. Dentro desse cenário, as usinas de aço chinesas buscaram o mercado externo, ampliando seu nível de exportações desde o início do ano passado. Em 2023, os embarques ao exterior atingiram cerca de 90 milhões de toneladas. Em 2024, até julho, já foram exportadas 61,2 milhões de toneladas, o que projeta mais de 100 milhões de toneladas ao final de 12 meses, informa a S&P Global Commodity Insights. A queda dos preços da principal matéria-prima do aço, com uma baixa de mais de um terço desde o início de 2024, está cortando, em valores acumulados, cerca de US$ 100 bilhões em capitalização de mercado de BHP, Rio Tinto, Vale e Fortescue.

Os mercados estão preocupados que os preços da commodity possam ser sustentados abaixo de US$ 100,00 por tonelada no curto prazo. Em reportagem da Bloomberg News, a Baowu Steel, a maior produtora de aço do mundo, responsável por 7% do volume global, apontou que o setor, na China, estava em crise, enfrentando um “inverno” que era mais longo, mais frio e mais difícil do que as quedas anteriores do mercado de 2008 e 2015. O plano da Vale, que é a segunda maior do mundo na mineração de ferro, em volume, atrás da Rio Tinto, é produzir 320 milhões de toneladas em 2024, volume levemente superior ao resultado do ano passado. As quatro grandes mineradoras têm na commodity do aço, junto com cobre e níquel (Vale) e cobre (BHP), uma fonte de receita relevante e de geração de retorno aos investidores em seus papéis.

Na Fortescue, 90% da receita vem do minério de ferro. A cotação do cobre também sofreu com o desaquecimento da demanda chinesa, pois o país é também grande importador de metais não ferrosos como alumínio e o metal vermelho. Para especialistas, o minério de ferro no patamar de US$ 100,00 por tonelada ainda gera rentabilidade para as companhias de baixo custo. No caso da Vale, o preço da ação da companhia já estava bem descontado, por outras razões, e a Rio Tinto e BHP sofreram mais pela queda de preço. Neste ano, a cotação dos papéis da Vale, negociados na B3, variaram de R$ 71,15 em 2 de janeiro para R$ 56,08 no dia 16 de agosto, registrando decréscimo de 21,2% no período. As ações da empresa foram também impactadas pelas incertezas vistas desde o início do ano no processo de escolha do novo CEO da companhia.

O recuo do preço do minério abaixo de US$ 100,00 por tonelada já aconteceu no final de 2022, mas recuperou-se rápido. Mas, desta vez, a queda pode ser mais sustentada entre US$ 90,00 e US$ 100,00 por tonelada. Se desce abaixo de US$ 90,00 por tonelada, muita produção sai do mercado e equilibra oferta e demanda novamente. Desta vez, é a demanda que não está crescendo como o esperado, e até caindo. Embora a oferta não cresça, ela desequilibra o mercado, e é isso que está acontecendo. Nos últimos dois anos, a China vem importando entre 6% e 7% a mais que o volume de anos anteriores. A China está aproveitando para aumentar os estoques de minério nos portos e substituir produção local. O melhor local para estocar minério é na mina.

Isso faz parte do xadrez geopolítico, em função da grande dependência dos chineses em relação ao minério australiano. A Austrália é um tradicional aliado dos Estados Unidos. Infelizmente, por idiossincrasias locais, o Brasil não está aproveitando essa oportunidade. Em 2007, o Brasil produzia mais que a Austrália. Hoje, os australianos produzem quase 2,5 vezes o volume do Brasil. O País está, assim, perdendo US$ 40 bilhões ao ano em faturamento. Desde 2007 que a Austrália cresce ano após ano e o Brasil parou no tempo. Além das empresas, os governos que se sucedem desde 2007 têm grande responsabilidade por essa perda de mercado, receita, impostos, investimentos e empregos. Agora que os preços estão caindo, além da perda de volume, haverá também a perda de preço.

Por sua vez, a Austrália vai perder preço, mas com volume alto: 1 bilhão de toneladas ao ano contra 400 milhões do Brasil. A Austrália e o Brasil são os dois grandes exportadores mundial da commodity. As grandes mineradoras serão, provavelmente, disciplinadas para evitar que os preços do minério caiam muito. Os embarques dos dois países começaram a desacelerar, conforme dados de julho, sinalizando declínio acentuado. A Bernstein observou que a mineração de ferro é uma indústria muito bem estruturada, com as companhias globais controlando suas próprias cadeias de suprimentos. Da mesma forma que a Opep (Organização de Países Produtores de Petróleo) não inundará o mercado de petróleo, elas simplesmente desacelerarão um pouco se o mercado não quiser suas toneladas. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.