26/Aug/2024
Principal produtor brasileiro de aço, com uma conta de luz que é a quarta maior do País, o grupo ArcelorMittal vai montar dois projetos de geração de energia renovável. O investimento, de R$ 1,6 bilhão, se soma a outro de R$ 4,2 bilhões anunciado no ano passado em um projeto eólico na região oeste da Bahia. Desta vez, o foco é em parques de energia solar. A energia é a sétima maior participação na balança de custos de produção da empresa. O consumo anual atinge 1,05 gigawatt (GW). Os acordos foram firmados com a Atlas Renewable Energy, líder no desenvolvimento de parques solares na América Latina, e com a Casa dos Ventos, pioneira na implantação de projetos eólicos no País e que também avança na geração fotovoltaica. Os dois investimentos vão garantir 113 MW de energia firme à siderúrgica. O principal objetivo do investimento bilionário é, de um lado, a redução de custos com o insumo, pois, como autoprodutor, a empresa consegue alcançar um custo mais competitivo.
De outro, a ArcelorMittal obtém redução, no escopo 2, em sua pegada de carbono (menor emissão de CO2). Com os três projetos, a empresa vai cortar cerca de 200 mil toneladas de CO2. A empresa tem meta global de reduzir 25% até 2030 e alcançar carbono neutro em 2050. O projeto com a Casa dos Ventos será instalado no mesmo local do complexo eólico Babilônia Centro, da joint venture firmada no ano passado, nos municípios de Morro do Chapéu e Várzea Nova, no oeste da Bahia. O parque fotovoltaico terá capacidade de gerar 44 MW médios a partir de uma potência instalada de 200 MW. Será um parque no modelo híbrido (eólico e solar). O investimento nesse novo empreendimento com a Casa dos Ventos será de R$ 690 milhões, e a siderúrgica terá 55% de participação no capital da nova joint venture. A parceira, 45%. O projeto contará com recursos do Banco do Nordeste (70% do valor total) e 30% de recursos próprios.
O parque eólico, com capacidade para gerar 290 MW médios, começará a produzir no início de 2025 e a previsão é de estar completo no fim do ano, com 123 aerogeradores. Está situado a 25 Km do ponto de conexão no sistema nacional elétrico (SIN). Com a Atlas, o investimento solar é maior, de R$ 895 milhões, para gerar 69 MW médios de energia ao ano, de uma potência instalada de 269 MW. O projeto terá 516 mil módulos fotovoltaicos, componentes que, em geral, são importados da China. No parque da Bahia, serão 358 mil módulos. Situado no município mineiro de Paracatu, o projeto tem um modelo diferente, conhecido como BOT (Build, Operate and Transfer). Ou seja, ao fim da construção ele será transferido e será operado pela própria ArcelorMittal, que se torna dona de toda a energia gerada. A Atlas receberá um valor pela construção do parque, que conta com financiamento do banco Itaú. Para escoar a energia desse complexo até uma subestação do Sistema Interligado Nacional, foi incluída no projeto, que recebeu o nome de Parque Luiz Carlos, a construção de uma linha de transmissão com 65 Km de extensão.
Desse ponto, o insumo será destinado às plantas siderúrgicas e industriais da companhia. O início de operação comercial plena do complexo está previsto para dezembro de 2025. A geração de energia dos três empreendimentos eólico e solares irá suprir o consumo de oito siderúrgicas (sendo cinco de fornos elétricos, portanto, eletrointensivas), uma fábrica de arames, centros de serviços e de distribuição de aço, uma laminadora de aço longo, a unidade de galvanização de aço plano de Vega (Santa Catarina) e duas minas de ferro, entre outras instalações. Para a companhia, o investimento em energia é estratégico, o que justifica o aporte total de R$ 5,8 bilhões. Hoje, a empresa compra 45% das necessidades energéticas de suas operações. Com os três projetos, passará a ter 88% de geração própria renovável. O objetivo é ter entre 70% e 90% para modular tanto o fator da intermitência (eólica e solar têm seus picos) quanto no custo, pois em época de estação muito chuvosa o preço da geração hidrelétrica pode cair. Mas, a autogeração é muito competitiva.
No ano passado, a ArcelorMittal respondeu por 42% da produção de aço bruto no Brasil, aproximadamente 13,5 milhões de toneladas. O grupo compete tanto em aços planos laminados quanto em longos com Gerdau, CSN, Usiminas, Simec, Aço Cearense/Sinobras e Aço Verde do Brasil. De meados de 2022, com a aquisição da Siderúrgica de Pecém (renomeada ArcelorMittal Pecém), até 2027, a companhia informa estar investindo R$ 25 bilhões no País. Sobre novos investimentos em energia, vai depender, por um lado, do crescimento da economia brasileira, que puxaria para cima o consumo de aço. Por outro lado, da freada das importações de aço oriundas, em grande parte, da China. As medidas tomadas em abril pelo governo, de impor cotas e tarifa de 25% para o excedente importado, vão surtir efeito a partir do próximo mês. Haverá aumento nas vendas acima dos 2% a 3% previstos no consumo aparente do País. Se o índice de importação cair de 19% para 10%, por exemplo, no consumo, terá mais aço para ser vendido de produção nacional. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.