23/Sep/2024
A L4 Investimentos avaliou que o pedido de recuperação judicial da AgroGalaxy reflete uma série de dificuldades enfrentadas tanto pela companhia nos últimos meses como pelo setor de insumos agrícolas. Nos últimos 12 a 18 meses, a AgroGalaxy tentou adequar seu capital para mitigar o impacto da inadimplência e de uma operação financeira desafiadora, mas os esforços não foram suficientes. A empresa realizou um aumento de capital, com apoio dos sócios, no início deste ano, mas a elevada alavancagem do setor cobrou seu preço.
A decisão de entrar com a recuperação judicial foi a melhor opção para preservar a operação da empresa e tudo que foi feito nos últimos quatro anos, incluindo o IPO e a consolidação de várias revendas que formaram o grupo. Ressalta-se que o cenário de queda nos preços dos grãos e a dificuldade da empresa em atender seus clientes e fornecedores contribuíram para a deterioração da situação financeira. As vendas vêm caindo, e a companhia não consegue atender seus clientes antigos, o que já se reflete nos números e resultados. Em relação à reação do mercado, o preço das ações da AgroGalaxy reflete a crise. No dia 17 de setembro, a ação recuou 14,16%, para R$ 0,97, considerando as negociações no after market.
A empresa, que chegou a valer R$ 1,7 bilhão no auge, hoje está avaliada em cerca de R$ 250 milhões. A dívida é alta, trata-se de uma dívida líquida de R$ 700 milhões. O setor de revendas de insumos agrícolas é altamente alavancado, o que amplifica os riscos em momentos de crise. É um setor com margens muito baixas e altíssima alavancagem. Se o ciclo do segmento é ruim, o resultado costuma ser recuperação judicial. Há possibilidade de que, diante da falta de ativos significativos para venda, a recuperação judicial seja complexa. Neste caso, é pouco provável que o acionista recupere valor, pois não há ativos suficientes para vender e quitar as dívidas.
Para a Santa Fé Investimentos, o pedido de recuperação judicial da AgroGalaxy representa um ponto crítico em um processo de deterioração que já vinha sendo sinalizado nos resultados recentes da companhia. Não houve outra solução além do pedido de recuperação judicial, o que reflete a incapacidade da empresa em enfrentar o cenário adverso. O pedido de recuperação judicial da companhia também confirma os desafios encarados pelo agronegócio brasileiro. O setor agro brasileiro enfrentou um período muito desafiador nas últimas safras, com preços de commodities em queda, insumos em alta e um clima adverso.
Esses fatores abalaram significativamente os resultados da AgroGalaxy, que já vinha lutando para equacionar suas dívidas. A empresa buscou contornar suas dificuldades financeiras com um aumento de capital de R$ 150 milhões no ano passado, com o objetivo de evitar o rompimento do covenant (cláusula restritiva para endividamento firmada em contratos de dívida), de alavancagem de 3,0x. No entanto, o cenário delicado de 2024 persistiu. O impacto setorial é preocupante. Embora o setor seja pulverizado, a recuperação judicial de um grande player como a AgroGalaxy envia um sinal ruim para os pequenos.
A seca prolongada e os preços em mínimas históricas atrasaram o plantio e as compras de insumos, o que deve impactar ainda mais as revendas. Também há preocupação sobre a capacidade da empresa de honrar seus compromissos e entregar os produtos previamente acordados. Para os investidores, a reação do mercado deve ser fortemente negativa. Há efeitos diretos para os acionistas da AgroGalaxy e para os Fiagros que possuem títulos da AgroGalaxy em suas carteiras, que podem enfrentar defaults ou renegociações. Isso traz um fluxo negativo para a renda variável agrícola na B3.
Agora, os investidores aguardam o posicionamento do acionista controlador, o fundo Aqua Capital. Certamente, o posicionamento do Aqua Capital será um divisor de águas no processo de recuperação da AgroGalaxy. A recente renúncia da liderança da empresa, que incluiu o CEO Axel Labourt, e parte do conselho, também pode ser um indicativo da extensão da gravidade da crise na AgroGalaxy. A renúncia pode ser vista como um sinal de que a situação é muito negativa, mas também pode representar uma tentativa de renovação para salvar a companhia, uma última cartada com sangue novo.
Para a Blink Consultoria, o pedido de recuperação judicial (RJ) da AgroGalaxy não é um movimento isolado no mercado de distribuição de insumos agrícolas. Observa-se um momento de contrafluxo no setor após euforia de 2021 e de 2022, quando as empresas investiram na expansão, abriram lojas e ampliaram redes. A AgroGalaxy não é a única empresa do setor que está passando por dificuldades financeiras e isso está relacionado à estratégia de expansão das revendas. O cenário atual é de achatamento de margens das distribuidoras com pressão sobre os preços dos insumos na ponta ao produtor rural.
A safra passada foi de aperto sobre a distribuição, o que afetou as margens de rentabilidade. Houve uma primeira fase de forte desencaixe dos preços elevados dos produtos em estoque versus os preços praticados a campo, o que gerou necessidade de renegociação com a indústria, afetando a margem. Isso foi seguido por uma segunda fase de atraso no pagamento pelos agricultores, o que levou algumas empresas a operarem no negativo. Na safra atual, com a queda expressiva do preço da soja, os agricultores atrasaram as compras, o que piorou o cenário.
A margem operacional do mercado nacional de distribuição caiu de 8% a 10% registrada em 2021 e 2022 para 4% a 6% no ano passado com a questão dos estoques elevados, chegando ao patamar atual de 2% a 4%. Com as distribuidoras com margens achatadas e um movimento de RJs relevante de agricultores, há pouco espaço de manobra para as empresas lidarem com o baixo fluxo de caixa. O setor está em uma crise de fluxo de caixa. As empresas que atuaram com estratégia mais voltada ao mercado de originação estão conseguindo navegar em melhor situação.
O cenário atual do mercado de insumos agrícolas aponta para um risco maior de outras empresas recorrerem à recuperação judicial. Não olhando especificamente as grandes plataformas, mas o mercado de distribuição como um todo deve passar por outras RJs, ao mesmo tempo que o cenário de consolidação do setor tende a continuar ocorrendo. É um momento de ajuste no mercado em virtude da euforia ocorrida nos anos anteriores. A safra 2023/2024 foi complicada, a temporada 2024/2025 segue desafiadora em vendas atrasadas e preço baixo na ponta, e o cenário para 2025/2026 “não é azul".
O Citi avaliou que a AgroGalaxy passa por um período desafiador e parece depender do potencial de recuperação do mercado brasileiro de insumos agrícolas. Porém, o processo pode demorar, diante da atual seca, que está adiando a temporada de plantio de soja no Brasil. Além disso, a recomendação para a ação é de compra/alto risco. A empresa também aprovou, em caráter emergencial, pedido de recuperação judicial devido a dificuldades financeiras, incluindo a inadimplência de R$ 70 milhões a credores. A situação que teria sido agravada pela dissolução da parceria com a Biotrop, fornecedora de defensivos biológicos. Esse cenário crítico foi apontado como um dos motivos para as renúncias dos conselheiros e do CEO. A AgroGalaxy enfrenta um endividamento elevado, com alavancagem de 8,5 vezes ao fim do segundo trimestre de 2024. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.