05/Dec/2024
O grupo B&F Agro, especializado na produção e venda de grãos, revenda de insumos e locação de veículos, máquinas e equipamentos, entrou em recuperação judicial. O pedido do grupo, que tem sede em Cianorte (PR), foi aprovado pelo juiz Juliano Albino Manica, da 3ª Vara Cível e Empresarial Regional de Maringá, no dia 22 de novembro. Como outros grupos do agro nacional que recorreram à proteção contra os credores, o B&F Agro também afirma ter sido afetado por fatores como queda nos preços das commodities e alta dos custos de produção.
O processo envolve dívidas de R$ 381,96 milhões com 317 credores. Os maiores são Banco do Brasil (R$ 58 milhões), Caixa Econômica Federal (R$ 51,5 milhões) e Itaú Unibanco (R$ 27,5 milhões). Integram o Grupo B&F Agro os produtores Enivaldo Barella Tironi, sua esposa Leila Regina Manhani Barella e o filho Mateus Manhani Barella, e as empresas controladas pela família (B&F Agro Comércio de grãos e Insumos Agrícolas Ltda, M M Locação Eirelli e Barella & Filhos Administradora de Imóveis Ltda). Com receita de R$ 333,15 milhões em 2023, o grupo tem três fazendas, quatro unidades de venda de grãos e três unidades de recebimento de grãos.
Antes de entrar em recuperação judicial, a empresa foi acionada na Justiça por credores pedindo o bloqueio de valores para garantir o pagamento das dívidas. Há registro de pedidos de bloqueio feitos por Banco John Deere, Bradesco, Banco CNH Industrial Capital, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Cooperativa de Crédito Sicoob Metropolitano, Deutsche Sparkassen Leasing do Brasil Banco Múltiplo, Unicred Vale, Cooperativa de Crédito Poupança e Investimento Dexis Sicredi, Banco Inter, Bayer, Itaú Unibanco e Cargill. Como parte da decisão, o juiz suspendeu as execuções judiciais contra o grupo pelo prazo de 180 dias e definiu como administradora judicial a advogada Sabrina Becue, do escritório Scalzilli & Becue.
O grupo terá até 27 de janeiro de 2025 para apresentar o plano de recuperação judicial. Segundo o advogado que representa o grupo B&F Agro, Jean Rodrigo Cioffi, da JRC Law, especialista em reestruturação no segmento agro, está sendo elaborada uma proposta de geração de receita e pagamento das dívidas para apresentar aos credores. Uma das opções poderá ser a venda de unidades produtivas isoladas (UPI), como é previsto em lei, mas não há certeza sobre isso. O grupo enfrenta um cenário difícil, mas superável.
Com a renegociação com os parceiros e adequação das atividades, certamente poderá prosseguir gerando emprego, renda e benefícios a toda a sociedade. Fundado em 2012, o Grupo B&F Agro atua no Paraná e no Mato Grosso do Sul, com o cultivo de soja e milho em 3.475 hectares, e revenda de insumos agrícolas, além dos serviços de análise de solo e armazenagem de grãos. No pedido de recuperação judicial, a empresa alega que fatores, como a crise hídrica, o aumento nos custos de produção e de insumos, a desvalorização do Real, a queda nos preços das commodities e a inadimplência de clientes das revendas causaram uma crise de liquidez com impacto direto na geração de caixa do grupo.
Por conta dessa inadimplência, o grupo procurou adequar o seu fluxo de caixa com tomada de recursos de curto prazo no mercado, esperando que a inadimplência seria revertida, o que não aconteceu. Na safra 2021/2022, a produção de grãos em Mato Grosso do Sul, onde o grupo cultiva soja e milho, teve perdas por causa da falta de chuvas. Em Itaquiraí (MS), onde está uma das fazendas do grupo, a Aprosoja MS classificou 97% de área produtiva como ruim para o cultivo. Além disso, houve disparada no preço dos insumos agrícolas, com alta de quase 288% de janeiro de 2020 a março de 2022.
Na safra 2022/2023, o preço da soja passou de R$ 190,00 por saca de 60 Kg para R$ 120,00 por saca de 60 Kg, queda de 37%. O milho, por sua vez, caiu de R$ 100,00 por saca de 60 Kg para R$ 35,00 por saca de 60 Kg. Na safra seguinte, a queda de produtividade por causa da seca e das altas temperaturas foi o que mais afetou a rentabilidade do grupo. Na área de revendas, houve aumento nos preços dos insumos agrícolas na safra 2023/2024 ao mesmo tempo em que os preços dos grãos caíram, causando queda nas vendas e aumento da inadimplência.
De acordo com o advogado, o grupo B&F recorreu a empréstimos de curto prazo para honrar com seus compromissos a juros altos, o que tornou a situação financeira do grupo insustentável. O grupo está focado no plantio da safra 2024/2025 de soja, para otimizar a produção e obter melhor resultado com o menor custo. O grupo também negocia neste momento com produtores a quitação das dívidas com as revendas, para que esses valores ingressem no caixa o quanto antes. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.