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17/Dec/2024

Defensivos: mitos e verdades sobre o uso no Brasil

Com uma frequência desconcertante surgem afirmações de que o Brasil é o maior consumidor de pesticidas agrícolas do mundo, ou que aqui se usam defensivos que são proibidos em outros países, e coisas semelhantes. Aliás, o próprio nome dado no Brasil a estes produtos que no mundo todo são chamados de pesticidas - agrotóxicos - já mostra um preconceito tolo. Esses produtos são remédios para plantas e animais domésticos e só foram criados exatamente para combater doenças e pragas que prejudicam o seu desenvolvimento. Ninguém chama medicamentos para pessoas de "humanotóxicos", o que seria o nome similar para os pesticidas. Mas é fácil a narrativa de que somos os maiores usuários do mundo. Fácil e errada. Se considerarmos os grandes produtores de alimentos, como os da União Europeia, Estados Unidos, Canadá, Argentina, Rússia e Brasil, veremos que somos o único país tropical onde a biodiversidade é muito mais rica. Por outro lado, calor e umidade típicos dos trópicos propiciam uma incidência muito maior de pragas e doenças do que nos países de clima temperado. Nestes, a neve quebra os ciclos destes males, eliminando grande parte deles na entressafra.

Só estes dois fatos (extensão territorial e clima tropical) seriam suficientes para justificar um maior volume de defensivos. No entanto, há argumentos muito mais fortes. Se o consumo fosse medido por área de cultivo, por exemplo, segundo os dados da FAO de 2021 o Brasil seria o décimo quarto no ranking de países. Mas tem outro fato, o de que no Brasil há uma grande área em que se produz duas safras agrícolas por ano, e até três em muitos casos. E em todos eles os defensivos são necessários. Segundo o mesmo relatório da FAO de 2021 (último publicado) havia no Brasil uma área cultivada de 66 milhões de hectares de 1ª safra, e mais 27 milhões de 2ª safra, somando 93 milhões de hectares em cultivo na mesma área. Com isso, o uso de pesticidas foi de 7,71 quilos por hectare, colocando o país na 29ª posição no ranking global, atrás de Japão, Holanda, China, Chile, Colômbia, Uruguai, entre tantos outros. Este é o número que vale. Tem mais ainda. O desenvolvimento de novas moléculas mais seletivas fez cair o consumo de defensivos por hectare nos anos 70 do século passado para menos de um sétimo daquele volume hoje em dia.

A tendência é sempre diminuir essa quantidade, o que também economiza água e diesel usados na aplicação. Além disso, cresce exponencialmente o uso de bioinsumos, em especial de biodefensivos. Nesse caso, o fato de o Brasil ser um país tropical ajuda, porque temos muito mais micro-organismos do que os países temperados, e esta é a matéria prima para esse tipo de produtos. Nosso sistema regulatório é um dos mais rigorosos do mundo, de modo que todos os defensivos passam por um triplo exame antes de ter seu uso liberado: os critérios para a segurança e a saúde pública são aplicados pela Anvisa, os para o meio ambiente pelo Ibama e a eficácia agronômica pelo Mapa. E são comparados aos aplicados pelas principais agências reguladoras do mundo, como na União Europeia, nos Estados Unidos, no Japão e no Canadá. A afirmação de que o Brasil importa e usa pesticidas não usados ou proibidos em outros países é uma distorção da realidade. Plantas cultivadas em países temperados são afetados por pragas não existentes em países tropicais. Aliás, muitas plantas cultivadas em países tropicais não o são nos temperados, e vice-versa.

O registro de uma substância ativa para proteção de plantas em um país ocorre ou não por diversos motivos: existência dos cultivos e a incidência de alvos biológicos a que se destina, o grau de eficácia, as estratégias de mercado, e as exigências regulatórias. A aprovação de uma substância em um país e a não aprovação em outro não significa que aquele ingrediente ativo tenha sido proibido por riscos à saúde ou a meio ambiente. Ainda assim, os 10 defensivos mais utilizados no Brasil têm registro para uso no Japão, no Canadá, nos Estados Unidos e na Austrália, por exemplo. Por fim, uma informação importante. O Brasil não aprova centenas de novo defensivos por ano. A enorme parcela dos aprovados é genéricos. Pouquíssimos são novos. Em 2022, de 652 registrados, só 8 eram novos. E em 2023 não houve aprovação de nenhum novo produto. Enfim, o esforço para aprovar novos defensivos beneficia produtores, mas também traz vantagens ao meio ambiente, dado o rigor técnico de nossas normas. Assim como remédios, é razoável esperar que novos defensivos sejam mais sustentáveis e mais eficientes que os anteriores. Fonte: Roberto Rodrigues. Broadcast Agro.