22/Jan/2025
A varejista de insumos agrícolas AgroGalaxy registrou prejuízo líquido ajustado de R$ 1,58 bilhão no terceiro trimestre de 2024, aumento de 1.679% em relação ao prejuízo de R$ 88,7 milhões de igual período de 2023, informou a companhia na segunda-feira (20/01). O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado ficou negativo em R$ 1,2 bilhão, ante resultado positivo de R$ 74,4 milhões um ano antes. A receita líquida caiu 48,6%, para R$ 1,2 bilhão. A empresa, que protocolou pedido de recuperação judicial em setembro com dívidas de R$ 4,6 bilhões, explicou que os números refletem uma série de ajustes contábeis não recorrentes. "Com o advento da RJ, praticamente fizemos um fechamento de ano. O nível de exigências é elevado, fomos testados ao máximo nos nossos níveis de controle e contabilizações", disse o diretor financeiro Luiz Conrado Sundfeld.
Entre os principais impactos estão o reconhecimento de R$ 220 milhões em ajustes no custo das mercadorias vendidas (CMV), relacionados ao cancelamento de contratos de fornecimento e reavaliação de estoques. A companhia também registrou baixa de R$ 250 milhões em créditos tributários diferidos, valor que poderá ser revertido após a aprovação do plano de recuperação judicial. O CEO Eron Martins destacou que a retração dos resultados reflete um cenário mais amplo de dificuldades no setor. "Diferentemente de ciclos anteriores, a recuperação acontece de forma mais lenta, com toda a cadeia produtiva prejudicada pelo recuo no preço das commodities, alta dos juros e condições climáticas adversas", afirmou.
A divulgação do balanço do terceiro trimestre foi adiada duas vezes. Inicialmente prevista para novembro, a publicação foi postergada após a empresa solicitar prazo adicional à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) devido às exigências do processo de recuperação judicial e à necessidade de revisão aprofundada das contas. As condições climáticas entre 2023 e 2024 agravaram o cenário. "Praticamente não tivemos 2ª safra no Brasil porque o comportamento de chuva na janela de plantio foi muito escasso. Isso fez com que o produtor tirasse o pé ou investisse pouco dinheiro", explicou Martins, ressaltando que a combinação desses fatores aumentou os custos dos produtores e reduziu sua produtividade. A empresa também reconheceu despesas com fechamento de lojas e baixa de impostos relacionados a operações descontinuadas.
No total, os ajustes na linha de despesas somaram cerca de R$ 770 milhões. O diretor financeiro ressaltou que muitos dos ajustes contábeis não têm efeito imediato no caixa da companhia. "São efeitos que serão diluídos ao longo do período de implementação do plano de recuperação", disse Sundfeld, acrescentando que a empresa vem otimizando seu mix de produtos, com foco em defensivos e sementes de especialidade. A AgroGalaxy fechou o terceiro trimestre com 74 lojas, após reduzir sua rede em 50% como parte do plano de reestruturação. A empresa também cortou 40% do quadro de funcionários e tem buscado reforçar sua liquidez com a venda de carteira de recebíveis e a retomada das operações do Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) Terra Magna.
O diretor financeiro da AgroGalaxy, Luiz Conrado Sundfeld, destacou que os números refletem o impacto do processo de recuperação judicial. "É muito importante que se entenda que os números do terceiro trimestre são de 30 de setembro, pouco tempo após o pedido de recuperação judicial, em 18 de setembro. Tivemos que reconhecer diversas multas, penalidades e baixas de ativos que não fazem parte do resultado ordinário da operação", afirmou Sundfeld. Segundo ele, os ajustes contábeis incluíram multas contratuais por interrupção de fornecimento, provisões de perdas em estoques e reavaliações de ativos. A empresa passou a operar com vendas exclusivamente à vista após o pedido de recuperação, buscando preservar o caixa. "Esse ajuste foi necessário para manter a liquidez da operação em um momento crítico", disse.
A empresa de auditoria PwC fez ressalvas ao analisar o balanço do terceiro trimestre da AgroGalaxy, devido principalmente aos impactos do processo de recuperação judicial. O diretor financeiro da empresa, Luiz Conrado Sundfeld, explicou nesta terça-feira (21/01), durante teleconferência com investidores, que as limitações apontadas pela auditoria estão relacionadas às incertezas do processo de RJ e à forma como a empresa calculou possíveis perdas com clientes. "A limitação de escopo vai em função de toda essa realidade do plano da recuperação judicial", disse. No caso específico das dívidas que a empresa tem a receber de clientes, ele explicou que a AgroGalaxy baseou seus cálculos em propostas de compra já recebidas, citando como exemplo o acordo preliminar anunciado hoje para venda de uma carteira de R$ 760 milhões.
A empresa separou as dívidas em dois grupos para fazer as provisões (reservas para possíveis perdas). Para valores vencidos há menos de 120 dias, usou critérios normais de mercado. "Para o restante da carteira, que passa dos 120 dias de vencimento, fizemos uma provisão baseada na expectativa de quanto vamos receber com a venda dessa carteira", explicou o executivo. Sundfeld destacou que o processo de análise das contas foi mais rigoroso que o usual. "Foi inclusive mais robusto do que um processo de fechamento anual", afirmou, explicando que a auditoria testou as contas tanto com dados de setembro quanto de dezembro devido aos atrasos na divulgação do balanço. A AgroGalaxy entrou com pedido de recuperação judicial em setembro de 2024, com um passivo de R$ 4,6 bilhões. O balanço do terceiro trimestre, que sofreu dois adiamentos, apresentou um prejuízo de R$ 1,58 bilhão. Fonte: Broadcast Agro.