ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

02/Apr/2025

Mineração: EUA mira países de metais estratégicos

Ameaçados pela retórica agressiva do presidente norte-americano, Donald Trump, Canadá, Groenlândia e Ucrânia têm algo em comum. Eles estão entre os dez países com maiores reservas dos chamados metais de terras raras. Nessa lista, a China é a primeira colocada, com 44 milhões de toneladas. O Brasil é o segundo, com 21 milhões, seguido de Canadá, que diz ter 15 milhões de toneladas comprovadas. A Ucrânia teria reservas estimadas em 6 milhões de toneladas, mas, em meio à guerra, estudos mais definitivos foram interrompidos. A China domina amplamente a extração e o refino das terras raras. Os chineses têm 50% das reservas mundiais e controlam 70% da produção. Os Estados Unidos vêm num distante segundo lugar, com 11%, segundo levantamento do Serviço Geológico dos Estados Unidos. Por sua importância estratégica na produção tanto de produtos de alto valor agregado, quanto na construção de infraestrutura de energia limpa, assim como no campo da defesa, o controle sobre a cadeia de suprimentos desses minerais tornou-se uma questão estratégica para os Estados Unidos.

Segundo o Programa de Segurança de Minerais Críticos no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), nos últimos 30 anos, a China se tornou o principal ator na cadeia global de suprimento de minerais. A China controla a extração e o refino não só de terras raras, mas também de uma categoria mais ampla, a dos chamados minerais críticos. Essas commodities, que incluem metais como lítio, cobalto, níquel e grafite, são usadas hoje em dia nos setores mais estratégicos da economia mundial. Esse domínio é o resultado de anos de planejamento industrial e iniciativas de política externa do governo chinês. Embora a China produza apenas 10% dos metais críticos, ela importa quantidades suficientes para processar de 65% a 90% do suprimento global desses metais. No estudo da tabela periódica, enquanto elementos como berílio, magnésio e cálcio caem nas provas de química há décadas, minerais de terras raras como neodímio, disprósio e gálio costumam passar batido pela maioria dos alunos. Mas, conforme o século 21 avança, isso tem mudado.

Esses minérios estão ficando cada vez mais conhecidos por sua utilização na fabricação de carros elétricos, semicondutores, drones e telefones celulares, além de terem aplicação nas áreas de geração de energia e defesa. A Escola Politécnica da USP explica que esses metais, de raros, não têm nada. Eles são abundantes na natureza, mas surgem em condições muito específicas. As terras raras costumam aparecer associadas a vulcões, que trazem do núcleo da terra um monte de coisa, entre elas minerais com baixos teores de terra rara. As aplicações das terras raras na indústria são estudadas desde os anos 60. Mas o jogo mudou na década de 80, com a descoberta do super-ímã de neodímio. O que é um ímã? É um material que resiste à desmagnetização. As terras raras são os elementos que conseguem aumentar essa resistência à desmagnetização, e com isso a força do ímã. Elas são muito melhores que qualquer coisa que havia antes da sua descoberta.

Os ímãs de alta performance construídos com neodímio e disprósio têm várias aplicações, mas a mais conhecida delas é em motores de carros elétricos. A bateria fornece eletricidade para o motor. Essa eletricidade cria um campo eletromagnético. Dentro do motor, os super-ímãs reagem a esse campo magnético numa espécie de “dança”, fazendo uma peça dentro do motor girar. Essa rotação é levada para as rodas e o carro anda. Mas, as terras raras e seus super-ímãs também são usados na fabricação de celulares, turbinas eólicas, painéis solares e na indústria de defesa. Um caça F-35, a joia da coroa da Força Aérea norte-americana, por exemplo, usa 400 quilos desses minerais para construir seus radares, motores elétricos e componentes eletrônicos. Em submarinos e destróieres, o volume é ainda maior: de duas a quatro toneladas, segundo um estudo do Ministério da Defesa da Alemanha. Só que a extração desses metais é um processo complexo.

Para começar, em média apenas 2% do que é minerado corresponde aos óxidos de terras raras. Além disso, os 17 elementos de terras raras encontrados na natureza geralmente estão juntos e precisam ser separados. Depois de extrair esses 2%, é preciso pegar esses óxidos de terra rara e ver quais dos 17 que interessam. No caso do mais usado, o neodímio, ele responde em média a 15% desses 2% que foram extraídos. Esse trabalho todo sustenta uma indústria que gera, por ano, US$ 12 bilhões, segundo a consultoria Imarc. É pouco, mas é um mercado que deve crescer num ritmo de mais de 10% ao ano e chegar a US$ 37 bilhões em 2034. Segundo o Departamento de Geografia e Antropologia Social da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia (NTNU), quando se fala em terras raras é preciso abordar também minerais críticos. A China não controla apenas a extração e a mineração de terras raras e minerais críticos, mas também grandes partes da cadeia de valor, já que domina ainda a produção de microchips, baterias e carros elétricos.

Esses materiais são fundamentais para o crescimento econômico com corte de emissões. O CSIS acrescenta que é esse domínio chinês que coloca os Estados Unidos numa posição difícil. A competitividade nos setores onde esses minerais são usados será fundamental para determinar a posição dos Estados Unidos como superpotência global. O domínio chinês cria vulnerabilidades estratégicas, expondo os Estados Unidos a possíveis interrupções no fornecimento, e proteger essa cadeia de suprimento é um imperativo de segurança nacional. Diante dessa fragilidade estratégica, ainda no governo Joe Biden, o Departamento de Estado criou um fórum para discutir a exploração de minerais críticos e terras raras em países ricos nessas reservas. A primeira reunião, no ano passado, reuniu, entre outros, Canadá, Groenlândia, e Ucrânia, justamente os países que Donald Trump tem ameaçado. Desde 2022, o governo norte-americano publica uma lista com 50 minerais críticos que julga necessitar de uma reserva estratégica. Destes, 41 são importados da China, de acordo com um levantamento feito pelo CSIS. A China é o maior produtor de 29 deles.

Para Universidade de Londres, a recente decisão chinesa de bloquear a exportação de terras raras para os Estados Unidos, motivada pelas tarifas de Trump, é uma evidência da exposição dos Estados Unidos a esse controle da China sobre a cadeia de logística desses minerais. A China há muito tempo entendeu que tem potencial de influência sobre os outros países nesse mercado estratégico e explora isso tanto por meio de suas próprias riquezas minerais, como no caso das terras raras, ou usando acordos comerciais para exercer influência sobre terceiros. Enquanto Biden procurava garantir uma diversificação do acesso norte-americano a esses metais estratégicos por meio dos canais convencionais de negociação e diplomacia, Donald Trump retornou à Casa Branca “chutando a porta”. Trump é implacável em sua busca pela sua agenda da América em primeiro lugar (conhecido pelas iniciais Maga). Não há mais aliados. Há países com os quais os Estados Unidos fazem negócios.

Donald Trump está falando sério quando diz que o Canadá será o 51º Estado e que a Groenlândia poderá ser comprada. A obsessão de Donald Trump com recursos usados na transição verde pode parecer apenas focada nas necessidades do Pentágono ou de seu principal financiador, o empresário Elon Musk, dono da Tesla. Mas a Universidade de Londres vê um outro objetivo nas movimentações do presidente. Donald Trump pensa da seguinte maneira: se os Estados Unidos têm uma vantagem militar, isso também pode ser transformado em uma vantagem comercial. Na Groenlândia e na Ucrânia, ele pode usar seu poder financeiro e militar superior para obter ganhos comerciais. No longo prazo, ambas podem oferecer aos Estados Unidos recursos valiosos que podem ser usados como poder de barganha sobre outros países. No final das contas, é rivalidade entre grandes potências e criação de novas esferas de influência. Nesse cenário, quem aparece como um parceiro confiável e menos belicoso é a União Europeia.

O bloco tem poucas reservas de terras raras e minerais críticos, e, assim, como os Estados Unidos, já se prepara para construir uma reserva estratégica. A Noruega tem algumas reservas de terras raras, mas elas estão perto de jazidas de urânio, o que traz consequências ambientais graves para a exploração, além de encarecer o processo. Com essa disputa cada vez maior entre Estados Unidos e China, a União Europeia se vê acuada. Isso provocou a necessidade de os europeus buscarem soluções domésticas e em outros parceiros pelo mundo. A Europa basicamente compra as terras raras da China, mas com Trump intimidando todo mundo cada vez mais, a União Europeia começa a pensar: ‘Bem, vamos precisar refinar isso no Brasil, no Canadá ou no Vietnã’. É uma certa reconfiguração de estratégias. Quem pode ganhar com isso é o Brasil. Segundo uma fonte da diplomacia francesa, o presidente Emmanuel Macron tem interesse em ampliar as relações da União Europeia com o País na exploração de minerais críticos.

O Brasil tem uma das maiores reservas mundiais de níquel, grafite e nióbio. No caso das terras raras, o País ainda tem uma vantagem adicional: a presença de argila iônica, um tipo de material no qual as terras raras são encontradas de refino mais simples e menos poluente, por conter menos urânio, um material radioativo. O teor de terra rara na argila iônica é menor, mas é fácil de extrair. O Brasil tem uma vantagem em relação aos outros países ricos em terras raras porque os seus vulcões têm uma formação geológica antiga, com mais de 60 milhões de anos. O desgaste geológico ao longo das eras não só pulverizou a pedra como também concentrou os níveis de terras raras. Se pegar um vulcão da Groenlândia, com rochas relativamente recentes, vai ter de moer aquilo até virar talco. E isso custa muito caro. Por isso, a argila iônica é boa. Ela não precisa ser quebrada e o ataque químico da chuva ‘lavou’ aquilo. E para sorte de quem tem argila iônica, não só o urânio foi embora (o que diminui o custo ambiental), mas a cesta de terra rara tem potencialmente tem mais valor. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.