14/Apr/2025
Segundo estudo do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (Esalq-Log) da Universidade de São Paulo (USP), o Brasil tem déficit de armazenagem que afeta seu potencial agrícola. O País consegue armazenar apenas 60% de sua produção de grãos, enquanto os Estados Unidos têm capacidade para 150% do que colhem. A insuficiência de silos força o uso de caminhões como depósitos temporários, exigindo cerca de 70 mil veículos adicionais para o escoamento das safras em períodos de pico. Sem capacidade de armazenagem, regiões produtoras precisam escoar toda a colheita simultaneamente, criando filas de caminhões e elevando preços de frete. O levantamento, que ouviu mil produtores rurais em 2024, identificou que 61% dos agricultores brasileiros não possuem silos próprios. Apenas 20% da capacidade de armazenagem nacional está nas fazendas, contra 55% nos Estados Unidos.
Produtores com armazéns próprios mantêm sua produção estocada por 4 a 6 meses e obtêm ganhos de 6% a 10% vendendo na entressafra. A pesquisa identificou três obstáculos para a construção de silos: alto custo, dificuldade de acesso ao crédito e falta de capital de giro. O estudo aponta que 25% dos produtores desconhecem linhas de financiamento específicas para armazenagem. Para contornar a situação, 19% dos agricultores recorrem ao silo bolsa como alternativa, enquanto outros utilizam armazéns de terceiros, com distância média de 35 quilômetros de suas propriedades. Aproximadamente 130 mil caminhões seriam suficientes para escoar a safra de grãos durante a maior parte do ano. Nos períodos de pico, esse número pode chegar a 200 mil veículos devido às ineficiências causadas pela falta de armazenagem. Caminhões aguardam mais de 30 horas em filas para carga e descarga, reduzindo a disponibilidade de veículos e elevando o valor do frete.
O estudo destaca uma situação: a produção brasileira de grãos cresce em ritmo contínuo, mas a capacidade de armazenagem não acompanha essa evolução. Regiões produtoras recorrem ao chamado "estoque sobre rodas", transformando caminhões em armazéns móveis. O trabalho apresenta outra comparação: o Brasil investe aproximadamente 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em infraestrutura de transporte, enquanto Estados Unidos e China aplicam mais de 2%. Com esse nível de investimento, torna-se difícil resolver os gargalos logísticos existentes. O fator humano também é destacado como ponto de atenção. Os motoristas autônomos representam cerca de 50% da oferta da frota brasileira de serviços de transporte, e o estudo alerta para possíveis problemas de escassez desses profissionais no futuro, citando situações já enfrentadas na Europa e nos Estados Unidos, especialmente na transição geracional.
A profissão de caminhoneiro tradicionalmente passava de pai para filho, mas essa transição geracional está se rompendo. O documento registra uma tendência entre embarcadores: empresas, sem esperar soluções governamentais, passaram a investir em infraestrutura logística. O dono da carga tem se tornado também o dono da logística, com integrações verticais e participações acionárias em empresas de infraestrutura. O Esalq-Log recomenda três prioridades para o setor: ampliação da capacidade de armazenagem, principalmente nas propriedades rurais; investimentos em ferrovias e hidrovias para longas distâncias; e melhorias nas rodovias e estradas vicinais, considerando que o transporte rodoviário permanecerá essencial nas etapas inicial e final da cadeia logística. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.