06/Mar/2020
De produto secundário, coadjuvante da soja, com baixa remuneração, o milho vem se credenciando como protagonista no cenário agropecuário da Região Centro-Oeste. A demanda externa pelo grão, no ano passado, o País bateu o recorde de exportações de milho, e o aquecimento do mercado de carnes, que é o principal consumidor do insumo, vêm ajudando na alta de preços da commodity agrícola. Agora, mais um sério concorrente pelo grão desponta na Região, garantindo, pelo menos por enquanto, a firmeza de preços: as usinas de etanol de milho, instaladas sobretudo em Mato Grosso. Segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), deve haver um incremento de 36,22% na demanda por parte dessas usinas no intervalo de apenas um ano. A estimativa é de que o esmagamento de milho para produção de etanol consuma 6,002 milhões de toneladas no ciclo 2019/2020, ante 4,406 milhões de toneladas 2018/2019.
Caso a 2ª safra de 2020 repita o desempenho do ano passado (perto de 32 milhões de toneladas), o segmento estará consumindo 18,8% de todo o milho produzido em Mato Grosso. A demanda é puxada pela expansão do número de usinas em operação. Em maio de 2019, a União Nacional do Etanol de Milho (Unem) contabilizava o funcionamento de 10 unidades em todo o Brasil, entre flex (processamento de milho e de cana-de-açúcar) e full (uso exclusivo do milho como matéria-prima). Os dados mais recentes (10 meses depois) já mostram 15 plantas ativas em 2020 (gerando perto de 2,7 bilhões de litros de etanol de milho por ano) representando 8% de todo o etanol do País. Só em Mato Grosso, considerado o principal Estado produtor, este número subiu de 5 para 8 indústrias em funcionamento. Essa conjunção de fatores: exportações em alta e consumo interno aquecido e reforçado pelas usinas de etanol, pode ter colaborado de forma efetiva para a escalada do preço do milho.
Pela série histórica de cotações do Imea, na região de Rondonópolis (MT), o milho era vendido a R$ 21,35 por saca de 60 Kg em 1º de março de 2018, atingiu R$ 29,65 por saca de 60 Kg (+41,8%) um ano depois e bateu nos R$ 42,00 por saca de 60 Kg no dia 2 de março, um avanço de 97% em dois anos. Para quem fez negócios na região de Tangará da Serra (MT), o milho de R$ 16,70 por saca de 60 Kg (2 de março de 2018) para R$ 39,50 por saca de 60 Kg (2 de março de 2020), um salto de 136,5%. Enquanto o produtor de milho comemora, a Unem vê riscos no médio prazo e dispara um alerta quanto à possibilidade de o cronograma dos investimentos industriais previstos para os próximos anos não se concretizar. O etanol deu vida ao preço do milho na Região Centro-Oeste. Em Mato Grosso, o produto que flutuava em um patamar entre R$ 10,00 e R$ 20,00 por saca de 60 Kg passou a ser negociado entre R$ 20,00 e R$ 30,00 por saca de 60 Kg, uma faixa que a entidade considera viável para todos os elos da cadeia no Estado. Mas, caso valores acima disso se mantenham por mais tempo, isso poderá inibir mais de uma dezena de novos projetos de usinas.
A Unem contabiliza atualmente 2 novas usinas em construção (ambas em Mato Grosso, com capacidade para produzir, juntas, mais 900 milhões de litros por ano) além de 14 projetos: 12 em Mato Grosso, 1 em Goiás e 1 em Roraima (ainda sem níveis de produção informados). A expectativa é de que, a partir da colheita da safra 2019/2020, que deve ter início em maio, o preço do milho recue. Valores na casa de R$ 40,00 por saca de 60 Kg não sustentam o mercado. Hoje, as indústrias estão esmagando milho adquirido em 2019 a preços entre R$ 24,00 e R$ 26,00 por saca de 60 Kg. As cotações atuais devem se manter até a colheita deste ano. E, caso haja uma avalanche de plantio estimulada por uma valorização excessiva, pode haver uma superoferta de milho mais à frente. Mas, há quem entenda que a demanda por etanol de milho não tenha tanta força a ponto de empurrar, sozinha, o preço do cereal para patamares tão altos.
Segundo a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT), vários fatores colaboraram com o desabastecimento do produto e puxaram para cima o preço do cereal. Uma quebra de safra maior do que a prevista nos Estados Unidos, a redução da janela de plantio em grades Estados produtores como Mato Grosso do Sul e Paraná, além de problemas climáticos no Rio Grande do Sul, também colaboraram. Além disso, passou a faltar o produto no mundo, sobretudo a partir de uma maior produção de carnes, que invariavelmente demanda milho como insumo. A Aprosoja-MT projeta uma safra de milho na casa de 34 milhões de toneladas em Mato Grosso este ano (algo em torno de 2 milhões de toneladas superior à anterior). Mas, chuvas contínuas podem atrasar o plantio em algumas regiões e prejudicar os resultados finais. No entanto, a tendência é de que os preços se mantenham firmes este ano. A entidade reafirma que não são somente as usinas de etanol de milho que vão sustentar os preços.
A FS Bioenergia, considerada a principal produtora de etanol de milho no País, não dá sinais de arrefecer seu fôlego em Mato Grosso. A empresa mantém em plena produção sua fábrica em Lucas do Rio Verde e, na semana passada, ativou sua segunda indústria em Mato Grosso, desta vez em Sorriso. A empresa (joint venture entre a norte-americana Summit Agricultural Group e a brasileira Tapajós Participações) informou que a capacidade de processamento atual é de 1,3 milhão de toneladas de milho por ano, convertidas em 530 milhões de litros de etanol (cerca de 20% da produção brasileira de etanol prevista em 2020/2021), 470 mil toneladas de DDG (utilizado na alimentação animal), 16 mil toneladas de óleo e 165 mil megawatt (MW) de energia volume, capaz de iluminar um município com 55 mil habitantes. Também foram ratificados os planos de expansão da empresa até 2023: mais quatro plantas em Mato Grosso (Nova Mutum, Campo Novo do Parecis, Primavera do Leste e Nova Querência), totalizando um consumo de 7,8 milhões de toneladas de milho e produção de 3,18 bilhões de litros de etanol. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.