10/Jun/2021
A multinacional Corteva está expandindo para cinco Estados da Região Nordeste o alcance de seu programa Prospera, focado na capacitação técnica de pequenos agricultores de milho da região e desenvolvimento do mercado local. Iniciado em 2017 com 45 produtores familiares de Pernambuco e contando hoje com mil participantes no Estado, o Prospera chegará também a Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Nesta nova etapa, a iniciativa passa a contar com a norueguesa de fertilizantes Yara e a norte-americana Massey Ferguson, do grupo AGCO. "Quando começamos o programa, em 2017, encontramos um cenário de baixíssima capacidade de produção, cerca de 10 sacas por hectare. Após três anos, os produtores atingiram uma produtividade média de 80 sacas por hectare", disse o diretor de Relações Governamentais da Corteva, Augusto Moraes. Para 2021, a perspectiva é atingir em torno de 1,450 mil agricultores nos cinco Estados nordestinos.
No ano que vem, o número deve subir para 2 mil e, a partir de então, dar saltos maiores: 9 mil em 2023, 28 mil em 2024 e mais de 50 mil em 2025. "O produtor que plantava 10 hectares sem capacitação técnica para atingir alta produtividade entrou no programa, viu sua rentabilidade saltar e passou a contar para outros agricultores, que nos procuram. Daqui a cinco anos, esse mercado vai ter se transformado e o Prospera não será mais necessário porque os produtores saberão buscar assistência técnica, comercialização, financiamento, sementes, fertilizantes e se organizar para comprar máquinas", avalia Moraes. A equipe do Prospera conta com a ajuda de mais de 200 multiplicadores nos cinco Estados, como líderes comunitários, cooperativas, universidades e outros, para identificar produtores rurais que podem se beneficiar da iniciativa. Os agricultores envolvidos passam a conhecer tecnologias com potencial para elevar a produtividade, como sementes de milho e defensivos da Corteva e fertilizantes e máquinas agrícolas, em workshops, dias de campo e eventos virtuais.
O Ministério da Agricultura participa da iniciativa com extensão e assistência técnica oferecida por unidades estaduais da Emater, e deve contribuir, em breve, com outras políticas públicas que serão discutidas, como zoneamento do milho visando a contratação de seguro rural e meios de estimular a aquisição de maquinário. A Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) também está sendo envolvida, ajudando produtores na gestão das propriedades e incluindo o Nordeste na pauta de negociações com governo e outras entidades. Moraes, da Corteva, enfatiza que não há doações de insumos aos participantes, e sim uma estrutura montada para que conheçam e tenham acesso ao que for necessário para elevar sua renda. "Muitos produtores só passaram a acreditar no programa quando perceberam que havia um objetivo de desenvolvimento de negócios lá na frente para todos”, pontua. A compra dos insumos é feita, na maioria das vezes, com recursos próprios e pagamentos em quatro parcelas (30/60/90/120 dias), explica o executivo.
Os cinco Estados envolvidos no Prospera produzem atualmente cerca de 900 mil toneladas de milho, sete vezes menos do que sua demanda pelo cereal, de 6,6 milhões, vinda principalmente de aviários e pecuaristas locais. A equipe do programa fez um levantamento das regiões aptas para a produção de milho, considerando altitude, índices pluviométricos e outras informações, e chegou a uma área de aproximadamente 1 milhão de hectares, concentrados no semiárido e zona da mata nordestinos. Se, no longo prazo, esta área atingir um rendimento médio de 80 sacas de milho por hectare, a produção saltará para 4,7 milhões de toneladas. "Fizemos essa projeção quando o programa só contava com a Corteva. Com a chegada da Yara e da Massey, podemos, sim, esperar que esses Estados se tornem autossuficientes em milho", afirma Moraes. Nestes 1 milhão de hectares, explica o executivo, não estão apenas os 50 mil produtores familiares que o programa quer atingir em cinco anos, mas cerca de 800 mil que cultivam diversas culturas.
"Isso é um mercado em potencial, mas não sabemos quando exatamente vai se concretizar", explica. Ao entrar na iniciativa, recentemente, a Yara fez um mapeamento do solo de algumas propriedades da região a fim de identificar carências nutricionais, conta a diretora de Inovação em Soluções Alimentares da companhia, Deise DallaNora. A análise apontou que, além de macronutrientes - como o tradicional NPK -, era necessário reposição de zinco, que dá condições para que a raiz da planta alcance camadas mais profundas da terra e, assim, tenha maior capacidade de retenção de água. Outra recomendação é a substituição de fertilizantes nitrogenados à base de ureia por nitrato de amônio que, segundo a executiva, não tem perdas por volatilização, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa. Para levar esse conhecimento aos agricultores, a Yara já definiu diversas localidades onde, junto com Corteva e Massey, fará dias de campo explicando os ganhos decorrentes da mudança, assim como webinars, vídeos e ações dos parceiros locais para garantir assistência técnica.
"Nossa meta é ampliar substancialmente a produtividade média. Com o uso dos fertilizantes corretos, haverá um incremento substancial”, afirmou Deise. A Massey Ferguson tem pela frente trabalho um pouco mais complexo para desenvolver, tendo em vista o baixo grau de mecanização nas pequenas lavouras do Nordeste e a maior demanda de capital para investir em máquinas. A diretora de Assuntos Governamentais AGCO América do Sul, Ana Helena de Andrade, explica que, inicialmente, o foco não será a venda de máquinas a produtores, mas identificar os tipos de produtos adequado à produção em pequena escala e aumentar sua disponibilidade na região. A rede de concessionários da empresa nos cinco Estados fará o levantamento destes prestadores de serviço e, junto com a Massey, apresentará a eles as possibilidades de produtos compatíveis. A companhia avalia, neste momento, qual é a "patrulha" ideal para a atividade, ou seja, o conjunto de máquinas necessário para desenvolvê-la em uma propriedade no Nordeste, como o porte do trator, número de plantadeiras etc.
O passo seguinte será realizar treinamentos para que operadores de máquinas conheçam os produtos e saibam ajustá-los de modo a ter maior retorno na operação. "Alugar um trator de 150 cavalos para uma plantadeira que precisa de um trator de 100 cavalos é comprometer a lucratividade do produtor”, diz Ana Helena. Somente em dois a três anos começará a haver demanda para compra de maquinário por parte dos produtores, estima a executiva da AGCO. A empresa quer preparar o terreno para suprir essa procura futura. Começará, em breve, conversas com o Ministério da Agricultura para a construção de políticas, de modo a viabilizar a mecanização e a autossuficiência em milho nos cinco Estados do programa. O apoio ainda será discutido, mas poderá se dar de várias formas, segundo Ana Helena, como linhas de financiamento a agricultores e agentes de serviço. "É fundamental a regularidade do orçamento assim como custo e prazos adequados à realidade local.
O Prospera tem duas facetas que contribuíram para a revolução da agricultura brasileira: tecnologia nas máquinas e insumos e uma inserção pública e privada", continuou. Para facilitar o acesso dos agricultores a diversos serviços, a Corteva também desenvolveu uma plataforma digital, de fácil acesso, fruto da parceria com startups dentro do Cubo Itaú, hub que conecta empreendedores e empresas. "Todo participante do Prospera terá um acesso bem simples à plataforma e lá poderá encontrar qualquer tipo de serviço que precise, como locação de máquinas, aquisição de fertilizantes, sementes, gestão de fazenda, entre outros", diz Moraes. "É um projeto diferente de tudo o que estamos acostumados a fazer. Até hoje estes agricultores produziram milho na região, mas não de maneira rentável. O que buscamos é que produzam de forma sustentável, rentável e sejam autossuficientes", completa Ana Helena. Fonte: Agência Estado.