21/Jun/2021
O forte recuo dos futuros em Chicago e a queda do dólar no Brasil intensificam a pressão baixista sobre os preços do milho no mercado interno. Em Chicago, o contrato julho/2021 do milho recuou do pico de US$ 7,32/bushel no dia 7 de maio para US$ 5,66/bushel na sexta-feira (18/06), uma queda acumulada de 22,7%. Os futuros de milho fecharam em forte alta na sexta-feira (18/06) na Bolsa de Chicago. O vencimento dezembro do grão avançou 33,75 cents (6,34%) e fechou a US$ 5,66 por bushel. O mercado passou por uma correção após ter caído 7% na véspera e acumulado perda de 13,6% nos últimos cinco pregões. Os traders continuaram liquidando posições compradas, com o dólar mais forte, petróleo em queda, vendas realizadas por produtores e a perspectiva de clima mais favorável nos Estados Unidos. No Brasil, o Indicador Cepea fechou a sexta-feira (18/06) a R$ 89,87 por saca de 60 Kg, acumulando um recuo de 10,2% desde o dia 31 de maio, quando havia rompido o patamar de R$ 100, cotado a R$ 100,07 por saca de 60 Kg.
As fortes quedas dos futuros em Chicago, com a melhoria do clima nos Estados Unidos, e a queda do dólar para um patamar próximo de R$ 5 foram os fatores determinantes dessa forte queda. Na sexta-feira (18/06), o dólar chegou a cair abaixo de R$ 5, acompanhando o fortalecimento global da divisa norte-americana na esteira de comentários “hawkish” (duro com a inflação) de uma autoridade do Federal Reserve. O presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, disse que a inflação nos Estados Unidos está mais intensa do que o esperado, sinalizando um aumento de juros já no ano que vem. Após os comentários, o dólar devolveu suas perdas iniciais contra o Real e manteve um movimento de alta até o fechamento. A moeda norte-americana registrou ganho de 0,92%, fechando a R$ 5,0712. Com a discussão em torno de um aperto monetário mais cedo do que o esperado na maior economia do mundo, o mercado fica na expectativa de que poderá começar uma migração dos investidores para ativos dos Estados Unidos em detrimento de ativos de países emergentes.
Juros mais altos nos EUA tendem a favorecer a moeda norte-americana com o ingresso de recursos de investidores que buscam retornos mais altos e, ao mesmo tempo, segurança. Por outro lado, o Brasil também conta com perspectivas de elevação de juros, o que ajudou o Real a tocar R$ 4,9823 na mínima intradiária da sexta-feira. O Banco Central promoveu a terceira alta consecutiva de 0,75 ponto percentual da taxa Selic na quarta-feira passada, a 4,25%, e anunciou a intenção de dar sequência ao aperto monetário com uma nova alta de pelo menos a mesma magnitude em sua próxima reunião. A moeda norte-americana teve queda de 0,9% ante o Real no acumulado da semana. Até agora em 2021, o dólar recuou 2,3% em relação ao Real. A comercialização de milho está enfraquecida no Brasil, tanto no mercado spot quanto no caso de fechamento de contratos a termo. Esse cenário se deve ao menor interesse de compradores, que, agora, têm expectativas de quedas ainda mais intensas nos preços, fundamentados na proximidade da colheita e na desvalorização nos portos brasileiros, que, por sua vez, reduz a intenção de vendedores em negociar lotes para exportação.
Do lado produtor, apesar de muitos não terem necessidade de vender o milho para fazer caixa, estes temem que o movimento de queda no preço se intensifique. Com isso, parte tenta negociar lotes remanescentes da temporada 2019/2020 ou da safra verão (1ª safra 2020/2021), mas a disparidade entre os valores de compra e venda limita os negócios. Nesse cenário, o Indicador ESALQ/BM&F (Campinas/SP) caiu para o menor patamar desde o início de março deste ano. Com a oferta se sobressaindo à demanda, as quedas nos preços foram mais intensas nas regiões produtoras de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Paraná. Nos últimos sete dias, a desvalorização é de 8% em Dourados (MS), de 7% em Campo Novo do Parecis (MT) e de 10% na região norte do Paraná. Apenas algumas regiões consumidoras de Santa Catarina é que registram ajustes positivos, sustentados pelos baixos estoques regionais, como é o caso de Chapecó, onde o preço apresenta alta de 1,9% na última semana. Nos últimos sete dias, os valores registram forte baixa de 6,0% no mercado de balcão (preço pago ao produtor) e 4,9% no mercado de lotes (negociação entre empresas). Esse cenário tem aliviado em partes os altos custos de produção do setor de proteína animal.
Quanto à exportação, importante balizador na formação dos preços domésticos, para embarques no Porto de Paranaguá (PR) em agosto e setembro, as indicações de compradores estão, em média, a R$ 82,00 por saca de 60 Kg em junho contra R$ 87,00 por saca de 60 Kg em maio. Com as negociações enfraquecidas e os valores nos portos abaixo do Indicador, os vendedores passam a priorizar os compradores do mercado interno. Dados preliminares divulgados pela Secretaria e Comércio Exterior (Secex) evidenciam esse cenário. Na parcial de junho (oito dias úteis), foram exportadas apenas 1,6 mil toneladas de milho, bem baixo das 312 mil toneladas embarcadas em todo o mês junho de 2020. Do lado das importações, o cenário foi o oposto, com 21 mil toneladas chegando ao Brasil nesse período, volume que já está cinco vezes acima do de junho/2020. Na B3, o contrato Julho/2021 registra desvalorização de 11,6% nos últimos sete dias, indo para R$ 82,80 por saca de 60 Kg; o contrato Setembro/2021 apresenta queda de 13,7%, a R$ 83,05 por saca de 60 Kg, e o Novembro/2021 acumula queda de 13,4% no período, a R$ 84,24 por saca de 60 Kg.
A colheita da 2ª safra de 2021 foi iniciada em Mato Grosso e no Paraná, favorecida pelo clima seco. Contudo, devido ao atraso da semeadura, o volume colhido ainda é pequeno. No Paraná, 1% da área havia sido colhida até o dia 14 de junho. Em Mato Grosso, os trabalhos alcançavam 1,9% da área, atraso de 6,3% em relação à safra 2019/2020. A colheita no Estado deve ganhar ritmo apenas após a segunda quinzena de junho, tendo em vista que a maior parte das lavouras ainda está em período de maturação. Em Chicago, o vencimento Setembro/2021 sofreu desvalorização de 14% em sete dias, caindo para US$ 5,48 por bushel. Relatório divulgado no dia 14 de junho pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indica que 68% da safra está em condições boas e excelentes; 27%, em médias e 5%, entre ruins e muito ruins. Do cereal semeado, 96% já emergiram, contra 91% na média dos últimos cinco anos. Fontes: Cepea e Cogo Inteligência em Agronegócio.