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07/Jul/2021

Etanol de milho: expansão da produção no Brasil

De forma silenciosa, vem crescendo nos últimos cinco anos a produção de etanol de milho no País. Entre 2015/2016 e 2020/2021, cresceu de 134 milhões para 2,57 bilhões de litros, e na atual safra 2021/2022 deve atingir 3,2 bilhões de litros, desafiando a elevação do preço do milho no mercado interno. Os projetos em execução e em planejamento indicam que até o final da década a produção deve superar 8 bilhões de litros por ano. Cada tonelada de milho produz em média 400 a 415 litros de etanol hidratado, obtidos pela conversão do amido contido no milho. As fibras e proteína geram um coproduto denominado DDG (grãos secos de destilaria), com teor de proteína médio de 36%, mas que pode variar entre 20% e 45%. De cada tonelada de milho, são gerados em média 285 Kg de DDG.

E é gerado também óleo de milho, de múltiplas aplicações, sendo a mais comum o consumo humano. A industrialização do milho, e sua conversão em etanol, DDG e óleo mais do que duplica o valor do grão, e o maior valor obtido pelo produtor estimula o aumento de sua produção. O etanol de milho é produzido basicamente a partir da conversão do milho de 2ª safra, produzido na sequência da colheita da soja, com plantio direto, utilizando os mesmos insumos do cultivo da soja e, portanto, mais econômico e sustentável que o milho safra de verão (1ª safra). O atrativo inicial para o desenvolvimento da atividade foi a disponibilidade de milho no norte do Mato Grosso a preços entre R$ 14,00 e 17,00 por saca de 60 Kg.

Pergunte a um produtor norte-americano, acostumado a produzir etanol a partir de milho custando entre US$ 3,50 e 4,00 por bushel, se gostaria de produzir etanol com milho entre US$ 1,50 e 2,00 por bushel. Não foi uma surpresa, portanto, que os maiores investimentos na produção de etanol de milho no Brasil tivessem ocorrido a partir de fundos e empresários norte-americanos. Ainda é possível expandir a produção de milho 2ª safra, utilizando áreas cultivadas com soja, sem a necessidade de utilizar terras adicionais. Esse é um dos segredos do sucesso, e da rápida expansão da atividade. Diferentemente da cana-de-açúcar, que usa o próprio bagaço para movimentar as usinas, a produção de etanol de milho precisa contar com uma fonte externa de energia.

Nos Estados Unidos, onde a produção de etanol de milho se desenvolveu a partir dos anos 1990, é utilizado principalmente gás natural fóssil como fonte de energia. Mas, no Brasil, é utilizada biomassa renovável, principalmente eucalipto e, também, o bambu e resíduos orgânicos como casca de arroz, casca de açaí, caroço de algodão, pó de serra, e outros. O que mais surpreende é que mesmo com a elevação do preço do milho, o ritmo de expansão não diminuiu. Isso porque o valor do DDG subiu junto com o milho e o boi gordo, e vem sendo utilizado de forma cada mais intensiva em confinamento de bovinos, e para alimentação de suínos e aves. Com a atividade, está sendo substituída a exportação do grão, pela exportação de proteína animal de muito maior valor agregado, gerando renda, empregos, efeito multiplicador, e impostos.

A produção de etanol de milho se concentra no Mato Grosso, mas também expande agora para Goiás e Mato Grosso do Sul, exatamente em busca da disponibilidade de milho, e não só em usinas dedicadas, mas também associada à produção de etanol de cana, aproveitando a disponibilidade de equipamentos, vapor e energia já gerados nas usinas tradicionais. Em 2020, o Brasil foi o campeão mundial na substituição de gasolina por etanol. Em média, o etanol substituiu 48% de todo o consumo de gasolina no País, através do etanol anidro misturado na gasolina e do etanol hidratado utilizado na frota flex. Em São Paulo, o nível de substituição foi de 64%, em Minas Gerais de 56,5%, em Goiás de 64,8%, e no Mato Grosso, de incríveis 70,5%.

Nos Estados Unidos, maior produtor mundial de etanol produzido a partir de milho, a substituição foi de apenas 9,8%, o que também não é pouco, considerando que consomem praticamente a metade de toda a gasolina do mundo. Os benefícios dessa atividade podem ser identificados em vários níveis: econômico, social, ambiental, de promoção de desenvolvimento descentralizado e de estímulo à produção sustentável de alimentos e energia. O etanol de cana-de-açúcar e de milho representam a energia da natureza, do bio, a energia solar que é capturada, armazenada e distribuída de forma eficiente, econômica e segura, que utiliza a infraestrutura existente e que de forma cada vez mais intensa deverá alimentar a eletrificação com biocombustíveis, através dos veículos híbridos, já disponíveis no mercado, e em breve os equipados com células a combustível movidas a etanol. Fonte: Agência Estado.