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20/Mai/2022

Grãos: atraso do plantio nos EUA gera incertezas

Os mercados de soja e milho vêm apresentando volatilidade elevada nos últimos meses, em meio a dúvidas pelo lado dos fundamentos, como os desdobramentos do conflito na Ucrânia e dos lockdowns na China. Atualmente, o foco também está bastante voltado para a safra norte-americana, cujos atrasos consideráveis no plantio se tornaram mais uma variável a ser acompanhada e que pode trazer impactos significativos para o mercado global de grãos. Os Estados Unidos são o maior produtor mundial de milho e ficam atrás somente do Brasil no caso da soja, o que explica o protagonismo do país em relação às duas commodities. O produtor norte-americano tem uma grande tradição no cultivo do milho, alcançando produtividades muito elevadas, e, em muitos anos, mesmo quando as perspectivas de preços estão mais favoráveis à soja, não se vê uma migração de área tão significativa para a oleaginosa.

Para o ciclo 2022/2023, o relatório de intenções de plantio, divulgado no final de março pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), surpreendeu ao indicar um forte crescimento da área de soja e uma queda da de milho em relação à safra anterior, inclusive com a área ocupada pela oleaginosa superando a do cereal. O relatório trouxe 36,8 milhões de hectares para a soja e 36,2 milhões para o milho. Entre os fatores que acabaram "beneficiando" a soja nesse levantamento junto aos produtores destacam-se os preços proporcionalmente mais elevados no começo de 2022 e o menor gasto com fertilizantes em comparação ao milho. Contudo, como destaquei no meu artigo do mês passado, essa pesquisa de intenções de plantio não captou totalmente os impactos do conflito entre Rússia e Ucrânia, que se iniciou no final de fevereiro, impulsionando mais fortemente os preços do milho, que subiram proporcionalmente mais do que os da soja, mesmo com as preocupações quanto aos efeitos sobre o mercado mundial de óleos vegetais.

Assim, havia a possibilidade de o milho recuperar alguma área em relação à soja, mesmo com o peso maior dos custos de produção. Com o início do plantio da safra dos Estados Unidos, essa possibilidade se inverteu. O andamento da semeadura tanto do milho quanto da soja foi afetado pelo clima chuvoso e mais frio em partes do meio oeste do país, resultando em atrasos muito expressivos. No último acompanhamento do USDA, referente à semana encerrada no dia 15 de maio, houve alguma recuperação dos trabalhos no campo, mas que continuam bastante atrasados em relação ao usual para o período. O plantio da soja alcançou 30%, 9% abaixo da média de 5 anos e 28% a menos que o registrado um ano antes. No caso do milho, a semeadura atingiu 49%, contra 67% de média e 78% neste mesmo período de 2021.

Como o ciclo da soja é algumas semanas mais tardio do que o do milho, os atrasos aumentam as chances de alguma migração de última hora do cereal para a oleaginosa, reforçando ainda mais a tendência de aumento da área de soja e de queda do milho. Ademais, é preciso destacar que quanto mais tarde o plantio ocorre, mesmo que ainda esteja dentro da janela para a região, crescem as possibilidades de se enfrentar algum problema no desenvolvimento das lavouras, prejudicando a produtividade. Outro ponto é a concentração do plantio, que deixa uma parcela grande das lavouras na mesma fase de desenvolvimento, aumentando o risco de impactos adversos do clima, por exemplo. Diante desse cenário, o USDA, ao divulgar o primeiro relatório de oferta e demanda para o ciclo 2022/2023, no dia 12 de maio, alterou a metodologia adotada, já trazendo uma redução na produtividade esperada para o milho nos Estados Unidos.

Usualmente, as estimativas de maio consideram o rendimento divulgado no Fórum Agrícola, em fevereiro, que para o milho foi de 11,4 toneladas por hectare. Contudo, o USDA já cortou a produtividade do milho para 11,1 toneladas por hectare, prevendo que o plantio atrasado vai trazer algum prejuízo para as lavouras. Com isso, a produção norte-americana de milho 2022/2023 foi estimada em 367,3 milhões de toneladas, o que deve resultar em restrições pelo lado da demanda, com consumo doméstico e exportações mais fracos e a manutenção de estoques finais mais restritos. Além disso, ressalta-se que o USDA espera que a demanda mundial supere a produção, num momento em que as dúvidas sobre a oferta da Ucrânia permanecem grandes. No caso da soja, o cenário é mais confortável, com USDA estimando uma produção recorde nos Estados Unidos, com espaço para crescimento do consumo doméstico e das exportações e com a produção mundial superando a demanda.

De qualquer maneira, muita coisa ainda pode ser alterada ao longo do ciclo 2022/2023, e não somente em relação à produção, mas também nas variáveis de consumo. A questão dos lockdowns na China tem preocupado, apesar de as perspectivas para a safra nova serem mais positivas, com o USDA estimando que o país vai importar 99 milhões de toneladas de soja. Além disso, enquanto houve um recuo no consumo de milho previsto pelos números do USDA, a demanda por soja cresceria, mesmo as duas commodities tendo uma relação bem determinada no uso para ração. Com certeza, novas surpresas vão ocorrer nos próximos meses! Fonte: Ana Luiza Lodi. Broadcast Agro.