11/Dec/2023
A tendência é de alta dos preços no mercado interno nos curto e longo prazos, em decorrência de diversos fatores combinados. Temos recuos nas áreas plantadas da 1ª safra (verão) e 2ª safra (inverno) da temporada 2023/2024. Além disso, o atraso no plantio da soja comprometerá a janela de plantio da 2ª safra de milho. Há um cenário de redução no uso de tecnologia nas lavouras de 2ª safra, elevando o potencial de perda de rendimento. As exportações serão recordes em 2023 e devem reduzir os estoques de passagem para 2024. No longo prazo, há, também, tendência de retração da área plantada nos EUA em 2024/2025. O cenário aponta para forte contração da produção brasileira em 2024, com redução da oferta interna e dos excedentes exportáveis. Essa redução da oferta interna no Brasil em 2024 deverá gerar “disputa” entre os consumidores do mercado doméstico e os players exportadores, devido ao menor excedente exportável previsto. Isso deverá levar a formação de um basis mais elevado com impactos nos preços domésticos.
A oferta de milho vem diminuindo no spot nacional. Esse cenário se deve a preocupações com os impactos do clima adverso sobre a produção da safra 2023/2024, ao bom ritmo das exportações brasileiras e à proximidade do período do final de ano, quando parte das empresas e transportadoras entra em recesso. De fato, estimativas oficiais já apontam menor produção para 2023/2024 e maior demanda para consumo doméstico. Diante disso, os produtores reduziram o interesse de vendas no spot e para entrega futura, ao passo que os consumidores domésticos seguem ativos, contexto que mantém os preços do cereal em alta. O Indicador ESALQ/BM&F (Campinas - SP) apresenta alta de 4,9% nos últimos sete dias, a R$ 65,79 por saca de 60 Kg, voltando aos patamares de abril deste ano. Tanto as ofertas de São Paulo como as da Região Centro-Oeste estão mais reduzidas, fazendo com que os consumidores com necessidade de recomposição de estoques acabem pagando maiores valores para efetivação de negócios.
Regionalmente, as altas também são expressivas, apesar do excedente na produção em 2022/2023 em algumas regiões, como Sorriso (MT). Nessa região, os preços têm forte avanço de 9% nos últimos sete dias, impulsionados pela retração de produtores. Nos últimos sete dias, a alta é de 3,7% no mercado de balcão (preço pago ao produtor) e de 3,5% no mercado de lotes (negociação entre empresas). Na B3 as cotações também estão em alta, devido às preocupações com o desenvolvimento da safra e à alta nos preços dos portos. Os vencimentos Janeiro/2024 e Março/2024 apresentam valorização de respectivos 1,6% e 2,2% nos últimos sete dias, passando para R$ 70,97 por saca de 60 Kg e R$ 75,12 por saca de 60 Kg. Além da alta externa e da estabilidade do dólar, a demanda aquecida para entregas nestes primeiros dias de dezembro dá suporte às cotações do milho nos portos. Algumas intenções de compra chegam à casa dos R$ 70,00 por saca de 60 Kg. Os valores do milho têm alta de 3,8% no Porto de Santos (SP) e expressivos 6,1% no Porto de Paranaguá (PR).
Quanto às exportações, depois de registrarem volume elevado em novembro, a Associação nacional de Exportadores de Cereais (Anec) estima que devem somar 6,9 milhões de toneladas em dezembro. Caso esse volume se concretize, seriam embarcadas 50,6 milhões de toneladas de milho no atual ano-safra (fevereiro/2023 a dezembro/2023), restando apenas seis milhões para atingir a quantidade estimada pela Conab, de 56 milhões de toneladas até o final de janeiro/2024. Apesar das condições climáticas adversas, o desenvolvimento das lavouras é considerado adequado, mas o que preocupa são os atrasos na semeadura da safra verão (1ª safra 2022/2023) de soja e a consequente redução da janela considerada ideal para a semeadura do milho 2ª safra de 2024. Para o milho da safra verão (1ª safra 2023/2024), até o dia 3 de dezembro, 60% da área estimada havia sido semeada no Brasil, 11,2% abaixo da temporada 2022/2023, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
No Paraná, o Departamento de Economia Rural (Deral/Seab) indica que a semeadura havia sido finalizada, com 80% das lavouras apresentando boas condições; 17%, médias; e apenas 3% em condições ruins. Em Santa Catarina, a Conab indicou que, até o dia 3 de dezembro, restava apenas 1% da área para ser implantada. No Rio Grande do Sul, segundo a Emater-RS, até o dia 7 de dezembro, a semeadura somava 87% da área estadual. Dados divulgados pela Conab no dia 7 de dezembro indicam que a atuação do fenômeno climático El Niño, além de ter atrapalhado a safra verão (1ª safra 2023/2024), atrasa a 2ª safra de 2024. Com isso, no agregado das três safras, a produção nacional de 2024 passou a ser estimada em 118,5 milhões de toneladas, 10% inferior à de 2023. O consumo interno deve aumentar 6%, enquanto as exportações podem cair 32%, chegado a 38 milhões de toneladas. Isso poderia gerar, ao final da temporada 2023/2024 (em janeiro/2025), estoque de apenas 4,51 milhões de toneladas, o menor registrado nos últimos anos.
Especificamente, em Mato Grosso, maior produtor de 2ª safra, a produção em 2023/2024 será de 43,75 milhões de toneladas, recuo de 17% em relação a 2022/2023, o que se deve à redução na intenção de área plantada, segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). Muitos agricultores se mostram desestimulados diante dos baixos preços praticados no início da 2ª safra de 2023. Além disso, há certo temor de que a semeadura fora da janela ideal prejudique a produção. Os futuros do milho estão em alta, impulsionados pela maior demanda pelo grão dos Estados Unidos (exportadores relatam aumento nas vendas) e por incertezas quanto à safra brasileira, que pode ser menor na temporada 2023/2024. Os contratos Dezembro/2023 e Março/2024 negociados na Bolsa de Chicago registram alta de respectivos 1,4% e 1,1% nos últimos sete dias, a US$ 4,68 por bushel e a US$ 4,88 por bushel. Na Argentina, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires indicou bom avanço na semeadura, de 8% entre os dias 1º e 8 de dezembro, chegando a 40,3% da área nacional. Além disso, as lavouras em boas condições passaram de 26% na semana anterior para 36% nesta. Fontes: Cepea e Cogo Inteligência em Agronegócio.