18/Dec/2023
A tendência é de alta dos preços no mercado interno nos curto e longo prazos, em decorrência de diversos fatores combinados. Temos recuos nas áreas plantadas da 1ª safra (verão) e 2ª safra (inverno) da temporada 2023/2024. Além disso, o atraso no plantio da soja comprometerá a janela de plantio da 2ª safra de milho. Há um cenário de redução no uso de tecnologia nas lavouras de 2ª safra, elevando o potencial de perda de rendimento. As exportações serão recordes em 2023 e devem reduzir os estoques de passagem para 2024. No longo prazo, há, também, tendência de retração da área plantada nos EUA em 2024/2025. O cenário aponta para forte contração da produção brasileira em 2024, com redução da oferta interna e dos excedentes exportáveis. Essa redução da oferta interna no Brasil em 2024 deverá gerar “disputa” entre os consumidores do mercado doméstico e os players exportadores, devido ao menor excedente exportável previsto. Isso deverá levar a formação de um basis mais elevado com impactos nos preços domésticos.
A forte retração de vendedores, que seguem preocupados com o clima e com os possíveis impactos sobre a oferta dos próximos meses, tem mantido o ritmo de negócios enfraquecido no spot nacional. Do lado da demanda, parte dos consumidores mostra necessidade de recomposição de estoques, sobretudo para este final de ano, ao mesmo tempo em que as exportações estão em ritmo aquecido. Ressalta-se que demandantes também estão atentos à produção da safra verão, que já teve sua área reduzida e pode apresentar maiores cortes, devido às elevadas temperaturas em partes da Região Sudeste e às fortes chuvas na Região Sul do País. Nesse cenário, os preços do cereal estão em alta na maior parte das regiões, inclusive nos portos. O Indicador ESALQ/BM&F (Campinas/SP) voltou a operar nos patamares de abril deste ano e já acumula alta de 9% na parcial de dezembro. Nem mesmo a oferta dos Estados da Região Centro-Oeste, que registrou produção recorde em 2022/2023, tem amenizado os avanços.
Nos últimos sete dias, o Indicador registra alta de 3,7%, cotado a R$ 68,21 por saca de 60 Kg. Nos últimos sete dias, as altas são de 2,3% no mercado de balcão (valor pago ao produtor) e de 5,2% no mercado de lotes (negociações entre as empresas). Na B3, as preocupações com o clima também impulsionam os vencimentos. O contrato Janeiro/2024 tem valorização de 1,8% nos últimos sete dias, passando para R$ 72,23 por saca de 60 Kg. Os contratos Março/2024 e Maio/2024 apresentam avanço 1,2% no período, a R$ 76,04 por saca de 60 Kg e a R$ 75,01 por saca de 60 Kg, respectivamente. Até o momento, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a área destinada ao cereal para a safra de verão (1ª safra 2023/2024) seja 9% menor que a de 2022/2023, resultando em produção de 25,3 milhões de toneladas, que seria, por sua vez, 7,5% inferior à da temporada anterior.
A expectativa de menor produção também pode ocorrer para a 2ª safra de 2024, apesar de ainda ser cedo para estimativas, os trabalhos de campo envolvendo a safra de verão (1ª safra 2023/2024) estão atrasados e isso pode atrapalhar a semeadura da 2ª safra de 2024 e, consequentemente, reduzir o potencial produtivo. Os exportadores seguem ativos nas compras de novos lotes, e, em algumas situações, os valores negociados estão de R$ 5,00 a R$ 7,00 por saca de 60 Kg acima dos praticados no mercado interno. Nos últimos sete dias, as médias de preços no Porto de Paranaguá (PR) e no Porto de Santos (SP) apresentam alta de respectivos 2,9% e 2,7%. As elevações não são mais intensas por conta das desvalorizações externas e do dólar. Quanto aos embarques, foram exportadas 2 milhões de toneladas de milho em apenas seis dias úteis de dezembro, o que já representa 32% de toda a quantidade escoada em dezembro de 2022.
Caso o atual ritmo de 333 mil toneladas por dia se mantenha, as exportações em dezembro podem somar mais de 7 milhões de toneladas. Enquanto os produtores da Região Sudeste registram atrasos nas atividades de campo devido às altas temperaturas, na Região Sul, o excesso de chuvas nos primeiros meses da semeadura impediu os trabalhos e reduziu o potencial produtivo das lavouras. Com isso, até o dia 9 de dezembro, a área nacional semeada somava 65,9%, contra 60% na semana anterior e 76,6% no mesmo período da temporada anterior. No Paraná, a semeadura foi finalizada, e, agora, os produtores se atentam ao desenvolvimento das lavouras, que tem variado conforme a região. A maioria das lavouras no oeste e centro-oeste do Estado está em frutificação; no sudoeste, o cenário das lavouras está desigual. No Rio Grande do Sul, chuvas recentes e a priorização da semeadura de soja limitam os trabalhos de campo envolvendo o cereal. Até o dia 15 de dezembro, 88% da área estadual havia sido semeada, avanço semanal de apenas 1%.
Em Santa Catarina, a semeadura foi finalizada, e, apesar do excesso de chuvas no início da temporada, a qualidade das lavouras é considerado boa. A oferta abundante dos Estados Unidos, a melhora das condições das lavouras da Argentina e o aumento nos estoques de etanol norte-americanos pressionam os vencimentos futuros do cereal. Na Bolsa de Chicago, o vencimento Dezembro/2023 apresenta desvalorização de 2,5% nos últimos sete dias, a US$ 4,56 por bushel. Os contratos Março/2024 e Maio/2024 acumulam queda de 1,7% e 1,5% no mesmo período, a US$ 4,79 por bushel e a US$ 4,92 por bushel, respectivamente. Na Argentina, as condições do cereal implantado apresentaram melhora entre as últimas duas semanas, e a semeadura chegou a 49,3% da área semeada até o dia 13 de dezembro. Fontes: Cepea e Cogo Inteligência em Agronegócio.