08/Out/2021
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) afirmou nesta quinta-feira (07/10), em audiência pública no Senado, ser contrário à “janela enorme” de plantio de soja estabelecida pelo Ministério da Agricultura para diversos Estados, entre eles Mato Grosso, maior produtor nacional da oleaginosa. Em 10 de setembro, a pasta publicou a portaria 394, estendendo o calendário de semeadura do grão de 110 para até 140 dias, em muitos casos até fevereiro. Para controlar a grande doença da soja, que é a ferrugem asiática, existem algumas estratégias: ou desenvolve-se a genética de semente e obtém um material resistente, o que mão existe ainda, ou desenvolve moléculas (fungicidas) para controlar o fungo que causa a ferrugem asiática, e as moléculas têm mostrado que sua eficiência vem diminuindo cada vez mais, a eficiência é de 70%, ou usa a terceira estratégia, que é o escape, reduzir a janela de plantio, fazer o vazio e fazes o calendário.
Até então, representantes da Embrapa não tinham se manifestado sobre o assunto. Especificamente em Mato Grosso, a Embrapa se manifesta contrária ao plantio em fevereiro. No dia 1º de setembro, o Ministério da Agricultura havia publicado a primeira portaria (389) ampliando o calendário de semeadura da soja no Brasil, que foi criticada por várias entidades do agronegócio, órgãos estaduais de defesa vegetal e a própria Embrapa, por meio de nota. Após os protestos de parte do setor, o ministério editou a portaria 394, em 10 de setembro, que manteve o prazo estendido da semeadura, até fevereiro, para a maioria dos Estados, mas concedeu aos governos locais a prerrogativa de acatá-lo ou não, mediante solicitação justificada. Nesta última portaria, Mato Grosso do Sul e Bahia conseguiram restabelecer a data limite do plantio para 31 de dezembro, a fim de reduzir os riscos da disseminação do fungo Phakopsora pachyrhizi, causador da ferrugem.
Mas, Goiás, que também protestou contra a alteração, ainda não conseguiu restabelecer o calendário anterior. A alteração do calendário de soja foi motivada por demanda de lideranças de Mato Grosso interessadas em um prazo mais longo que permitisse cultivar a soja, com a finalidade de salvar sementes para uso próprio, por volta de fevereiro, a fim de colher em maio, quando o clima é mais seco, o que contribuiria para a qualidade do grão. A prática é legal, mas a extensão do prazo do plantio é contestada no setor porque implicaria o dobro de aplicações de fungicidas, mais tempo de plantas vivas no solo servindo de hospedeiras para o fungo e, consequentemente, maior resistência do fungo aos fungicidas atuais. Pressionado por órgãos estaduais de defesa vegetal e entidades do agronegócio, o Ministério da Agricultura deve chegar a uma nova decisão sobre o calendário estendido de plantio de soja no País nos próximos dias.
A pasta vem realizando reuniões, inclusive com órgãos estaduais e entidades do setor, para discutir como resolver o impasse sobre o prazo de semeadura ampliado, criticado por aumentar o risco de proliferação do Phakopsora pachyrhizi, fungo causador da ferrugem asiática, e a resistência do fungo aos fungicidas hoje disponíveis no mercado. No dia 5 de outubro, o secretário de Defesa Agropecuária se reuniu com representantes do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea-MT), Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) e Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat). Entre as possibilidades aventadas estava a de retornar ao calendário anterior, de 16 de setembro a 31 de fevereiro, porém abrindo exceções de plantio fora deste prazo, o que foi contestado pelo Indea com a justificativa de que não haveria mão de obra suficiente para fiscalizar as exceções.
Já o retorno restrito ao calendário anterior, defendido pela Aprosmat, não foi bem-vindo pela Aprosoja. Após este encontro, outras discussões sobre o tema ocorreram no Ministério da Agricultura. Oficialmente, o Indea afirmou, no fim de setembro, que cumprirá o calendário atual, estendido, mas também pontuou que no dia 21 de julho havia sugerido ao ministério a manutenção do mesmo prazo praticado no Estado desde 2015, de 16 de setembro a 31 de dezembro. A proposta se deu para atender à portaria 306, de maio deste ano, que determinava que o calendário de semeadura no País seria estabelecido pela Secretaria de Defesa Agropecuária do ministério, com base em sugestões dos órgãos estaduais de Defesa Vegetal. Há expectativa também de que o Ministério da Agricultura reverta o calendário de semeadura de Goiás. A Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa) informou ter solicitado que o prazo de semeadura da cultura em Goiás seja de 25 de setembro de 2021 a 31 de dezembro de 2021 e que aguardava resposta do Ministério da Agricultura.
A extensão do prazo do plantio é contestada no setor porque implicaria um número maior de aplicações de fungicidas, mais tempo de plantas vivas no solo servindo de hospedeiras para o fungo e, consequentemente, maior resistência do fungo aos fungicidas atuais. Segundo dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a produtividade média de soja no Estado aumentou 12% após a implementação do prazo de plantio no Estado, a partir da safra 2016/2017. Quando comparadas as cinco safras anteriores e as cinco posteriores a este ciclo, o rendimento médio saiu de 50,93 sacas de 60 Kg para 57,04 sacas de 60 Kg por hectare, ou 6,11 sacas de 60 Kg a mais por hectare. Considerando o valor médio atual da soja, de R$ 150,00 por saca de 60 Kg e a área plantada em Mato Grosso, a diferença é de R$ 10 bilhões por ano. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.