09/Jan/2023
A tendência é de preços sustentados para soja no mercado interno, com as cotações futuras em alta na Bolsa de Chicago, em decorrência das adversidades climáticas que assolam a Argentina e áreas produtoras do grão no Sul do Brasil. Na Bolsa de Chicago, os contratos futuros para 2023 oscilam no intervalo entre US$ 14,00 a US$ 15,00 por bushel, ligeiramente acima da faixa de dezembro de 2022, que foi de US$ 14,00 a US$ 14,80 por bushel, e ainda bem superior à média histórica dos últimos 10 anos, de US$ 11,11 por bushel. A colheita da safra de soja 2022/2023 deve ganhar ritmo em Mato Grosso a partir da segunda quinzena de janeiro, após um plantio realizado um pouco mais tarde do que no ciclo anterior em algumas regiões. Em janeiro de 2022, a colheita da safra 2021/2022 estava um pouco mais adiantada, em relação ao ciclo atual. Os produtores estão apreensivos com o clima, normalmente muito chuvoso nesta época do ano, mas até o momento não há problemas. Na Argentina, o índice de lavouras de soja em condições ruins ou muito ruins aumentou consideravelmente na última semana e passou de 28% para 38% dos campos, de acordo com a Bolsa de Cereais de Buenos Aires.
São 54% da soja em condições regulares - contra 62% da semana passada - e 8% e condições boas ou excelentes, contra 10% da semana anterior. O plantio da soja na Argentina chegou a 81,8% da área estimada em 16,7 milhões de hectares para a safra 2022/2023. Porém, a expectativa de uma safra recorde no Brasil e de exportações volumosas do País neste ano limitam altas mais acentuadas das cotações futuras. O Brasil deverá exportar um volume recorde em 2023 com um esperado aumento da demanda chinesa. Embora os surtos de Covid-19 possam afetar a procura no curto prazo, a China deverá importar até 98 milhões de toneladas de soja neste ano, o que representaria um aumento de 8,3% ante 2022. O bom desenvolvimento das lavouras da América do Sul passa a ser fundamental para que se confirmem as atuais estimativas indicando crescimento da oferta mundial da 2022/2023 em taxa superior à da demanda, o que, por sua vez, favorece a recuperação parcial dos estoques.
A relação estoques/consumo deverá completar quatro safras entre 26,3% e 27,5%, o que é considerado baixo, depois de ter ficado três temporadas seguidas (2016/2017, 2017/2018 e 2018/2019) na média de 30%. Diante disso, qualquer redução da estimativa de oferta da América do Sul poderá ter efeitos negativos expressivos sobre os estoques. No Brasil, a temporada 2022/2023 se inicia com incertezas. Diante dos baixos estoques, produtores estão resistentes em comercializar a safra 2022/2023 de forma antecipada. Apenas 25% da colheita futura foi negociada, o que pode deixar a disponibilidade no spot nacional maior, à medida que a colheita avançar. No campo, o clima desfavorável na Argentina e no Paraguai gera otimismo para os agentes nacionais, que esperam maior demanda global por derivados de soja do Brasil. Por enquanto, a safra brasileira é estimada em volume recorde, entre 153,5 milhões e 155,0 milhões de toneladas. 50,7 milhões de toneladas de soja devem ser destinadas ao esmagamento no Brasil, resultando em aumentos de 3,7% nas produções do farelo de soja (38,9 milhões de toneladas) e 3,7% de óleo de soja (10,3 milhões de toneladas).
A projeção é de aumentos de 4,4% no consumo doméstico de farelo de soja e de 13,6% no de óleo. A maior demanda interna por óleo está atrelada à expectativa de crescimento na mistura obrigatória do biodiesel ao óleo diesel – atualmente, a taxa está em 10%, mas o setor espera que passe para 15% a partir de março. O Brasil deverá exportar 96,5 milhões a até 98,0 milhões de toneladas de soja em grão em 2023, até 22% a mais que o volume embarcado em 2022. Os prêmios de exportação vêm sendo pressionados no Brasil e estão nos menores patamares das três últimas temporadas. A paridade de exportação no porto brasileiro de Paranaguá (PR) indica preços de R$ 180,00 por saca de 60 Kg a R$ 183,00 por saca de 60 Kg para o primeiro trimestre de 2023. Para o segundo trimestre, o valor calculado está de R$ 181,00 por saca de 60 Kg a R$ 188,00 por saca de 60 Kg. Em 2022, as negociações estiveram, em média, a R$ 191,43 por saca de 60 Kg no primeiro trimestre e a R$ 191,57 por saca de 60 Kg no segundo trimestre. A receita do vendedor brasileiro, contudo, dependerá da taxa cambial (US$/R$).
O dólar futuro de janeiro a dezembro de 2023 na B3 está entre R$ 5,30 e R$ 5,60, acima dos R$ 5,20 da média de 2022. Do lado da demanda mundial, dados do USDA apontam que a China poderá importar 98 milhões de toneladas, diante da maior demanda para processamento. Já a União Europeia deverá diminuir em 1,0% suas importações, projetadas pelo USDA em 14,4 milhões de toneladas, a menor quantidade desde 2018/2019. Mesmo em temporada de demanda global recorde, o USDA indica queda de 5,2% nas exportações de soja dos Estados Unidos (segundo maior exportador global). Já as exportações da Argentina devem somar 7,7 milhões de toneladas,169% acima do volume embarcado na safra 2021/2022. As exportações do Paraguai são projetadas em 5,65 milhões de toneladas, 151% superior ao escoado na temporada passada. Os consumos mundiais de farelo e de óleo de soja na temporada 2022/2023 são previstos em volumes recordes, de 253,32 milhões de toneladas e de 60,69 milhões de toneladas, respectivamente. O consumo de farelo deve crescer 3,8% entre as duas últimas safras e o de óleo, 1,2% na área alimentícia e 23,1% no segmento industrial, ainda conforme dados do USDA. Fontes: Cepea e Cogo Inteligência em Agronegócio.