02/Sep/2025
Segundo o Rabobank, a rentabilidade dos produtores de grãos no Brasil só deve se reequilibrar em 2027, após a colheita da safra 2026/2027. Mesmo com margens operacionais razoáveis no curto prazo, o peso do endividamento e os atrasos de pagamento continuam a pressionar o setor. O ajuste depende sobretudo da redução da alavancagem financeira dos produtores. A crise atual é consequência de um período de forte rentabilidade, entre 2020 e 2023, que levou muitos produtores a ampliarem investimentos em máquinas e estruturas, em um momento de juros em alta. A estiagem em regiões importantes de Mato Grosso e a posterior queda de preços internacionais agravaram a alavancagem.
A conclusão principal seria justamente essa, do gerenciamento de gestão financeira ter sido como um dos principais problemas dessa crise. Ao considerar apenas os custos de produção e a produtividade, as margens operacionais ainda aparecem como positivas. No entanto, a leitura muda quando entram na conta as dívidas acumuladas e o custo financeiro. As margens operacionais realmente estão razoáveis, mas quando se olha para as margens totais, olhando endividamento e tudo mais, fica muito mais coerente a análise com esse atraso de pagamento e recuperação judicial. A situação atual do campo reflete essa pressão. Os pedidos de recuperação judicial cresceram, os atrasos de pagamento acima de 180 dias aumentaram e o ambiente de crédito está cada vez mais restritivo.
O ambiente de crédito está muito averso a risco. Instituições financeiras e empresas fornecedoras de insumos têm elevado exigências de garantias, enquanto os produtores buscam reduzir investimentos para preservar o caixa. Nesse contexto, o barter ganhou espaço como alternativa de financiamento. O instrumento, que assegura insumos em troca da entrega futura da produção, tem sido cada vez mais utilizado para mitigar riscos de inadimplência. Fonseca destacou dados de Cédulas de Produto Rural (CPR) registradas no Banco Central e na B3, que mostram aceleração dessa modalidade no segundo semestre de 2024.
O segundo semestre do ano passado mostrou bem essa vontade do produtor e das empresas de usar o barter como uma ferramenta para acessar o crédito dos produtores. O avanço mensal foi de aproximadamente 5% no período, frente a uma média de 2,5% a 2,8% nos 12 meses anteriores. Outro desafio relevante para a próxima safra é o custo de insumos, especialmente de fertilizantes. O Rabobank projeta alta média de 10% nas despesas de adubação em 2025/2026. No caso do fósforo, a oferta restrita de MAP obrigou produtores a buscarem alternativas como superfosfato simples e triplo, que também encareceram.
No potássio, a elevação dos preços reflete uma correção após valores historicamente baixos no ano passado. Para o nitrogênio, a situação é de importações atrasadas e manutenção de preços altos da ureia. O Brasil já está atrasado com relação à importação de ureia. Apesar do aperto, há espaço para um ajuste gradual das contas. A orientação é que o produtor mantenha disciplina financeira, evite novos investimentos de risco e concentre esforços na redução da alavancagem. O preço da soja não deve subir. O ponto é que, com gestão conservadora, o produtor consegue chegar em 2027 em uma situação mais equilibrada de margem. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.