31/Oct/2025
Segundo a StoneX, o novo acordo comercial firmado entre Estados Unidos e China pode aliviar tensões e garantir alguma previsibilidade ao mercado agrícola norte-americano, mas ainda deixa dúvidas sobre o real tamanho das compras chinesas de soja. O acordo prevê a suspensão por 12 meses das tarifas portuárias impostas desde 14 de outubro, a redução pela metade da tarifa sobre produtos ligados ao fentanil e a interrupção das restrições chinesas à exportação de terras raras. Também estão incluídos compromissos de aumentar o comércio agrícola e resolver pendências envolvendo o aplicativo TikTok. Há um acordo, agora é preciso ver se ele será cumprido. A China teria se comprometido a comprar 12 milhões de toneladas de soja ainda neste ano e 25 milhões anuais nos próximos três anos. No entanto, a falta de clareza sobre o período de referência impede uma leitura precisa dos impactos.
Se forem 12 milhões de toneladas adicionais, isso permite aos Estados Unidos atingirem a meta de exportação do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e reduzir estoques para algo perto de 8 milhões de toneladas. Mas, se o total incluir o que já foi comprado, o excedente pode levar os estoques acima de 13 milhões de toneladas, pressionando preços. A diferença de interpretação tem influenciado diretamente o comportamento dos contratos futuros na Bolsa de Chicago. O mercado oscila porque ainda não sabe se as compras valem para o ano-safra ou para o ano civil. O USDA trabalha com exportações de cerca de 45,8 milhões de toneladas de soja na safra 2025/2026, mas o volume pode variar substancialmente dependendo da efetividade do acordo. O compromisso tem caráter político, não contratual.
China e Estados Unidos combinaram volumes em toneladas, e isso é um avanço em relação ao acordo da Fase Um, que foi baseado em valores em dólar e nunca totalmente cumprido. Naquele período, a China comprou apenas 58% do que havia prometido. A nova estrutura dá transparência, mas ainda não garante execução. Mesmo que o pacto se concretize, o volume total ainda seria inferior ao nível de importações observado há uma década, antes da expansão da produção sul-americana. O impacto maior pode vir da previsibilidade para os produtores norte-americanos. Isso dá uma base mínima de demanda e tempo para os Estados Unidos concluírem sua transição estrutural, deixar de depender da China e construir um novo eixo de consumo doméstico via biocombustíveis. Se as compras chinesas se confirmarem, a combinação com o aumento da demanda interna poderá justificar um deslocamento de área do milho para a soja.
Além da oleaginosa, o acordo também inclui sorgo, milho e outros grãos. O USDA estima exportações de cerca de 5,7 milhões de toneladas em 2025/2026, mas sem a presença chinesa esse volume dificilmente seria alcançado. Se a China voltar a comprar, isso reduz a necessidade de o sorgo buscar espaço no etanol ou na ração e alivia a pressão sobre o milho. O contexto político da trégua. O acordo parece refletir um momento de vulnerabilidade de Xi Jinping, que busca estabilidade para lidar com questões internas. Ele precisava reduzir a temperatura internacional, e Donald Trump precisava mostrar resultado ao eleitorado rural. Ainda assim, temas sensíveis, como Taiwan e semicondutores, ficaram fora da mesa e podem gerar novos atritos. O mercado vai oscilar até entender o tamanho real das compras chinesas. Se a China cumprir, os preços podem se sustentar acima de US$ 11,00 por bushel; se não cumprir, os estoques subirão rapidamente e o mercado voltará a cair.
A AgResource avalia que a China dificilmente ampliará suas importações de soja na safra 2025/2026, mesmo após as recentes reuniões entre autoridades chinesas e norte-americanas. A China está promovendo uma "grande liquidação" de seu rebanho suíno e tem priorizado o abate e o processamento de carne, em vez da recomposição de estoques de suínos. Esse movimento reduz a necessidade de ração e, consequentemente, de soja, principal insumo na alimentação animal. Além disso, os preços brasileiros continuam mais competitivos, o que deve manter os Estados Unidos em desvantagem nas exportações à China até que as margens de lucro melhorem. A American Soybean Association (ASA) comemorou o anúncio de que a China voltará a comprar grandes volumes de soja dos Estados Unidos, classificando a notícia como "excelente para os produtores norte-americanos". A entidade destacou que o compromisso chinês de adquirir pelo menos 12 milhões de toneladas de soja até o fim do ano, e cerca de 25 milhões de toneladas anuais até 2028, representa um passo importante para restaurar os fluxos comerciais interrompidos durante os anos de tensão entre as duas maiores economias do mundo.
Para o setor agrícola dos Estados Unidos, a decisão chinesa é um alívio após anos de exportações reduzidas, que chegaram a cair mais de 50% em valor. A ASA espera que os novos compromissos ajudem a devolver estabilidade e previsibilidade ao mercado de grãos, especialmente diante da importância estratégica da soja na balança comercial norte-americana. O gesto da China ocorre em meio a um esforço bilateral mais amplo que inclui temas como energia, fentanil e minerais críticos. Ainda assim, a retomada das compras de soja é vista como o sinal mais concreto de distensão entre os dois países, e um movimento que pode redefinir, mais uma vez, o equilíbrio global do comércio agrícola, com reflexos diretos sobre exportadores concorrentes como o Brasil. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.