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07/Dez/2021

Preocupações com a farinha de trigo transgênica

A questão da eventual presença de trigo transgênico continua a ser acompanhada muito de perto pela indústria moageira nacional e pelos demais setores na cadeia do trigo. A CTNBio aprovou, no dia 11 de novembro, a utilização de farinha de trigo transgênico no Brasil, a partir de solicitação feita por uma empresa argentina. A decisão entra em vigor no próximo dia 12 de dezembro. Apesar da forte rejeição do mercado internacional nos últimos 20 anos e do forte posicionamento da indústria do trigo brasileira contra a liberação, lamentavelmente, o Brasil passará a ser conhecido como o primeiro país a aprovar a utilização de trigo transgênico no mundo. Essa decisão, carregada de incertezas no âmbito dos desdobramentos perante o mercado e a comunidade internacional, foi tomada com base em critérios que incidem na segurança, sem maior estudo sobre condições de mercado e de comportamento do consumidor.

Não foram poucas as tentativas da indústria do trigo, junto a outras entidades e associações, de sensibilizar o poder público sobre os riscos desta decisão, no sentido de que o processo de análise considerasse o desejo do consumidor brasileiro e as consequências sobre a cadeia do trigo no Brasil. O Ministério da Agricultura não respondeu oficialmente à solicitação da indústria para que seja convocado o Conselho Nacional de Biossegurança a fim de examinar a autorização da importação da farinha de trigo transgênica sob aos ângulos da conveniência e oportunidade. A principal incerteza é sobre o comportamento do consumidor. Não há pesquisas de opinião sobre a reação do consumidor. Os esforços para conhecer a reação dos consumidores à presença de farinha transgênica em massas, pães, bolos e biscoitos, deveria avançar sob a liderança da Abimapi, entidade que congrega as empresas que produzem massas, pães, biscoitos e bolos e a Abip que reúne as padarias.

As empresas dessas duas associações poderiam ficar afetadas dependendo da reação dos consumidores. A indústria, representada pela Abitrigo, continuará a apoiar essas associações na pesquisa para conhecer a reação dos consumidores. Há outros aspectos que não podem deixar de ser considerados como o eventual impacto sobre as exportações brasileiras de produtos derivados (massas, biscoitos e pães) e eventualmente da exportação de trigo pelo Brasil. Nesse particular, a preocupação é com a resposta dos países importadores de produtos da indústria nacional, derivados da farinha de trigo, pelo fato de até o momento da importação de produtos contendo trigo transgênico ser proibido. Caso haja medidas restritivas, haverá prejuízo concreto para o setor. Não pode ser descartada a possibilidade de desmembramentos imprevisíveis sobre a imagem do Agronegócio, já afetada pela percepção externa no tocante à destruição da Amazônia, com práticas ilegais de desmatamento, queimadas e garimpo, inclusive em áreas indígenas.

Do ponto de vista da indústria, resta aguardar a decisão final do Mapa sobre a convocação ou não do Comitê Nacional de Biossegurança, para que seja analisada, de forma mais abrangente, do ponto de vista da conveniência e da oportunidade, as implicações da presença de trigo transgênico da Argentina sobre o mercado brasileiro. De outro lado, se mantida a decisão da CNTBio, será urgente o reexame da legislação vigente em relação à presença de trigo transgênico no mercado brasileiro, sobre vários aspectos, inclusive o da questão da rotulagem. Sendo o Brasil grande importador de trigo da Argentina, a médio e longo prazo, a preocupação é com a possibilidade de entrada ilegal do trigo produzido naquele país. A colheita argentina está terminando em uma área de 50 mil hectares e uma produção de cerca de 200 mil toneladas. A partir de 2022/2023, o novo desafio será controlar a entrada ilegal de sementes e de trigo transgênico, o que poderá tornar ainda mais incerto o comportamento do mercado nacional. Fonte: Rubens Barbosa. Agência Estado.