04/Jun/2024
Sazonalmente, os preços do trigo tendem a se manter firmes no Brasil no segundo trimestre de cada ano, sustentados pelos menores estoques. Em 2024, além da menor disponibilidade doméstica, os valores do cereal estão sendo influenciados também pelo ambiente externo. Os estoques mundiais da safra 2024/2025 tendem a cair pelo terceiro ano consecutivo. Diante disso, os atuais preços do trigo no mercado de lotes (negociação entre empresas), considerando-se as principais regiões, são os maiores desde meados de 2023, em termos reais (valores médios mensais deflacionados pelo IGP-DI). No mercado de balcão (preço pago ao produtor), as cotações avançam em menor intensidade, o que pode estar atrelado à baixa liquidez. Os compradores seguem relatando dificuldades em encontrar o trigo de melhor qualidade no mercado interno, reflexo ainda da queda na produção em 2023.
Por outro lado, as importações continuam firmes. Os moinhos nacionais estão atentos a possíveis reduções de produtividade nos Estados Unidos e na Rússia, contexto que pode dar sustentação aos preços internacionais. Nos últimos sete dias, no mercado de balcão (preço pago ao produtor), os preços registram alta de 1,63% em Santa Catarina, 0,71% no Paraná e se mantêm estáveis no Rio Grande do Sul. No mercado de lotes (negociação entre empresas), os aumentos são de 0,42% no Rio Grande do Sul, de 0,61% no Paraná, de 4,44% em São Paulo e de 1,85% em Santa Catarina. Em maio, a média do trigo negociado no Paraná foi de R$ 1.391,42 por tonelada, alta de 9,8% frente à média de abril/2024. Na comparação anual (de maio/2024 contra maio/0223), observa-se queda, de 4%, em termos reais. No Rio Grande do Sul, a média foi de R$ 1.282,65 por tonelada, aumento mensal de 7%, mas baixa anual de 0,9%, em termos reais.
Em São Paulo, por sua vez, a média foi de R$ 1.502,44 por tonelada em maio, expressivo avanço de 14,4% em relação à de abril/2024 e de 4% sobre a média de maio/2023. Em Santa Catarina, a média foi de R$ 1.423,49 por tonelada, alta de 2% em relação a abril, mas queda de 2,6% frente à média de maio/2023. Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral/Seab), a semeadura de trigo no Paraná avançou bem, chegando a 59% da área projetada no Estado (em 1,12 milhão de hectares). O retorno das chuvas e as temperaturas mais elevadas favoreceram os trabalhos, que, até então, estavam atrasados. Algumas lavouras apresentam germinação irregular, sendo que 4% estão em estado ruim, devido ao baixo índice pluviométrico. Caso o clima seja mais favorável nos próximos meses, a colheita pode chegar a 3,7 milhões de toneladas.
No Rio Grande do Sul, as fortes chuvas de maio, além de terem causado perdas pontuais de safra e bloqueios de rodovias, prejudicaram de forma considerável o solo. Segundo a Emater-RS, a lixiviação e a erosão de algumas áreas danificaram as estruturas química, física e biológica do solo, o que pode dificultar a semeadura da safra de inverno de 2024. Os preços externos do trigo registraram baixa na última semana de maio, pressionados pelo rápido avanço da semeadura de cereal de primavera nos Estados Unidos. Ainda assim, a média mensal fechou acima da de abril/2024, sustentada pelo clima desfavorável na Rússia e por preocupações quanto à oferta global de trigo. Segundo a consultoria Ikar, há um mês, estimava-se que a produção russa seria de 93 milhões de toneladas, porém, devido aos problemas climáticos, o número caiu para 81,5 milhões de toneladas.
Na Bolsa de Chicago, o primeiro vencimento (Julho/2024) do trigo Soft Red Winter tem queda de 2,7% nos últimos sete dias, a US$ 6,78 por bushel (US$ 249,31 por tonelada). Na Bolsa de Kansas, o mesmo vencimento do trigo Hard Red Winter registra desvalorização de 1,7% no mesmo período, a US$ 7,08 por bushel (US$ 260,42 por tonelada). De abril para maio, o primeiro vencimento do Soft Red Winter na Bolsa de Chicago avançou expressivos 16,2%, com média do último mês a US$ 6,56 por bushel (US$ 241,29 por tonelada). Em um ano (maio/2024 contra maio/2023), a elevação foi de 6%. Na Bolsa de Kansas, o primeiro vencimento do trigo Hard Winter teve média de US$ 6,89 por bushel (US$ 253,62 por tonelada) em maio, alta de 15,9% na comparação mensal, mas queda de 18,7% na anual. De acordo com relatório divulgado no dia 28 de maio pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), 77% do trigo inverno já estava em fase de desenvolvimento, 8% acima do mesmo período de 2023. Além disso, 48% estão em condições entre boas e excelentes, acima dos 34% há um ano. Em condições ruins e muito ruins, estão 19% da safra atual, contra 35% no ano anterior.
Para o cultivo de primavera, 61% emergiram, ante 43% na semana anterior e 52% na média das últimas cinco safras. Segundo o Ministério da Agroindústria da Argentina, os preços FOB registram alta de 1% nos últimos sete dias. No dia 29 de maio, especificamente, a cotação atingiu US$ 300,00 por tonelada, a maior deste ano. A média de maio fechou em US$ 283,82 por tonelada, 16% acima da média de abril/2024 (US$ 244,75 por tonelada). Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), até a quarta semana de maio, as importações de trigo no Brasil somaram 598,5 mil toneladas, volume 111% superior ao de maio/2023 (283,52 mil toneladas). O preço médio do cereal importado foi de US$ 238,60 por tonelada FOB origem, queda de 28,5% no comparativo anual. Quanto às exportações, o Brasil embarcou 55 mil toneladas, contra 68,2 mil toneladas em maio/2023. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.