23/Jun/2025
O mercado brasileiro de trigo segue pressionado pela combinação entre maior oferta de cereal argentino, retração da demanda industrial e expectativa de redução da área plantada para a safra 2025/2026. No Paraná, na região de Ponta Grossa, os moinhos continuam dando prioridade ao produto importado, com base nas condições de custo e disponibilidade. Os compradores indicam R$ 1.450,00 por tonelada CIF moinho, mas os produtores indicam R$ 1.500,00 por tonelada FOB. No Paraná, os preços acumulam queda em junho. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP) mostram que o valor médio caiu 1,88% no mês, a R$ 1.503,35 por tonelada.
As negociações permanecem limitadas. As indicações para a safra nova giram entre R$ 1.450,00 e R$ 1.490,00 por tonelada CIF, para entrega entre setembro e outubro, dependendo da condição de pagamento. Parte dos compradores considera o trigo argentino mais competitivo, inclusive para abastecimento no interior. Tem muita oferta de cereal estrangeiro e o trigo brasileiro não consegue competir. No Rio Grande do Sul, o mercado também segue com liquidez restrita. No Porto de Rio Grande, a indicação para setembro permanece em R$ 1.330,00 por tonelada CIF, patamar considerado elevado pelas indústrias locais. Operadores relatam aumento do uso de sementes descartadas na moagem devido à escassez de grão comercial.
A procura por derivados, como farinha e farelo, também segue contida. A redução da área plantada é apontada como tendência nacional. De acordo com o Itaú BBA, o Brasil deve plantar 12,6% menos trigo em 2025, reflexo dos custos elevados e da maior competição com o cereal argentino. No Paraná, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta queda de 23,7%, enquanto no Rio Grande do Sul, agentes calculam menos de 900 mil hectares. O Itaú BBA destacou que a relação de troca com fertilizantes segue desfavorável, com preços de ureia e MAP acima dos níveis de 2022. As perdas de safra no ano passado também afetam o investimento em tecnologia e insumos para o ciclo atual.
A pressão adicional vem do aumento da oferta da Argentina. O governo local prorrogou até o fim de junho a alíquota de 26% das retenciones, mantendo a competitividade no mercado externo. Além disso, a produção foi revisada para cima, com alta de 5 milhões de toneladas na estimativa oficial. De janeiro a maio, o Brasil importou 3 milhões de toneladas de trigo, o maior volume desde 2007 para o período, com 72% originado na Argentina, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). No mercado de derivados, o Cepea apontou alta de 0,87% no preço do farelo a granel e de 0,82% na farinha para panificação na segunda semana de junho. Apesar do ajuste, a demanda por produtos processados segue fraca.
As indústrias relatam dificuldade para repassar reajustes, considerando o cenário de menor consumo de derivados. No cenário internacional, os futuros de trigo encerraram a sexta-feira (20/06) em queda na Bolsa de Chicago. O contrato setembro recuou 7,00 cents (1,19%), e fechou a US$ 5,83 por bushel. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), as exportações norte-americanas somaram 427,2 mil toneladas na semana encerrada em 12 de junho, com Taiwan, Filipinas e Venezuela entre os principais destinos. Na Argentina, o plantio da safra 2025/2026 atingiu 60,3% da área prevista, com atraso de 5,2% ante o ciclo anterior. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.